Com o objetivo de entender como são construídas as narrativas audiovisuais que compõem os materiais produzidos pelo repórter Marcelo Canellas, da Rede Globo, o presente trabalho estudou três reportagens elaboradas pelo jornalista, veiculadas no ano de 2014 no programa dominical Fantástico. O motivo da seleção desses materiais em especial se deu em função do tema que cada um deles aborda. A primeira reportagem, intitulada de "Pesquisa revela que 94% dos moradores de favelas são felizes", foi ao ar em 23 de fevereiro. A segunda, "Médico traz menino africano com tumor para se tratar em São Paulo", foi exibida em 13 de julho. Já a terceira, "Interno da Fundação Casa vence Olimpíada de Língua Portuguesa", foi veiculada em 21 de dezembro. As três pautas tratam de assuntos de interesse humano, marca registrada do trabalho desempenhado por Canellas. Para dar conta deste aspecto, foi utilizado o método de pesquisa qualitativa - que levanta dados e os interpreta de acordo com o tema principal - aliada às técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, entrevista em profundidade e análise da narrativa. Como componente teórico para embasar a pesquisa, foram revisados os conceitos de narrativa, narrativa no jornalismo, narrativa jornalística audiovisual, telejornalismo e seus desdobramentos no Brasil e uma breve contextualização sobre a Globo e o gaúcho Marcelo Canellas que, desde 2010, é repórter do núcleo de reportagens especiais do Fantástico. Autores como Roland Barthes e Luiz Gozaga Motta foram os principais norteadores do início da revisão teórica. Em relação à narrativa jornalística e suas relações com a literatura, os estudos de Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari fundamentaram a conceituação, assim como Felipe Pena e Fernando Resende. No que toca às narrativas jornalísticas audiovisuais, Fabiana Piccinin e Célia Ladeira Mota contribuíram com seus pensamentos de forma a facilitar a compreensão das teorias acerca do assunto. Sobre o que é o telejornalismo e como ele surgiu no Brasil, Alfredo Vizeu Pereira Júnior, Flávio Porcello e Iluska Coutinho foram os três autores principais na elaboração do capítulo sobre o tema. Na sequência, em relação às narrativas no telejornalismo, Beatriz Becker incrementou a conceituação. Jean-Jacques Jespers deu suporte às teorias relacionadas ao telejornalismo. No que diz respeito ao desenvolvimento do jornalismo de televisão no Brasil e à elaboração de reportagens para televisão, Jaciara Novaes Mello e Cárlida Emerim foram autoras de extrema relevância e auxílio na composição da revisão conceitual. Na análise, procederam-se quatro passos distintos: a recomposição do acontecimento jornalístico, a identificação dos conflitos, o entendimento da construção das personagens jornalísticas e a localização das estratégias comunicativas. Esta técnica de entendimento da construção de uma narrativa foi elaborada pelo professor da Universidade de Brasília e estudioso da área, Luiz Gonzaga Motta. Através desta divisão, foi possível perceber nas reportagens analisadas que Canellas usufrui de recursos oriundos da literatura em suas narrativas, como a criação de personagens e o uso de adjetivos e expressões, o que caracteriza a existência de seu estilo próprio e inovador na produção jornalística para televisão.