"NÃO QUEREM ME ENXERGAR, MAS EU EXISTO": A PROBLEMATIZAÇÃO DA REALIDADE DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA CIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL

GABRIELA FELTEN DA MAIA, MARIA LUIZA ADORYAN MACHADO

Resumo


A proposta deste trabalho é de problematizar a realidade da população em situação de rua, através de uma pesquisa qualitativa realizada com moradores de rua na cidade de Santa Cruz do Sul. Esta pesquisa surgiu no segundo semestre do ano de 2014, na disciplina de Antropologia, tendo início com um grupo de cinco alunas de graduação das áreas de Psicologia, Fisioterapia e Enfermagem. Atualmente continua sendo realizada por uma aluna do curso de Psicologia. Desde as primeiras entrevistas realizadas com moradores de rua e com profissionais de órgãos públicos que atuam em áreas assistenciais, que deveriam acolher e amparar esses indivíduos, foi identificado que a exclusão social vivida por essa população é vista como natural e promovida pelos próprios profissionais que trabalham diretamente com essa realidade. Os principais objetivos do presente trabalho são: problematizar a realidade da população em situação de rua; desconstruir a forma estereotipada do morador de rua; e promover a (re)inclusão social do morador de rua. A metodologia utilizada para a obtenção dos dados foi: aproximadamente dez entrevistas realizadas com quinze moradores de rua com a finalidade de conhecê-los e debater sobre as atuais políticas públicas voltadas aos indivíduos em situação de rua, além de entrevistas com quatro profissionais que atuam em órgãos públicos assistenciais para analisar as estratégias de atuação e o papel do profissional enquanto elemento fundamental na busca da (re)inclusão social do indivíduo que está em situação de rua. Os principais resultados encontrados a partir desta problematização contribuem para a ênfase que se deve dar ao fato de que, além da falta de integração e atenção dos órgãos públicos assistenciais com o morador de rua que necessita desses serviços para buscar sua própria sobrevivência, há o fato de que o morador de rua se autoexclui por não conseguir livremente sua cidadania e subjetividade, pois a negação, preconceito, discriminação e violência são disparadas por diversos meios que dificultam e impossibilitam sua (re)inclusão social e (re)afirmação singular. Conclui-se que a figura do morador de rua continua sendo estigmatizada através de diversos meios, e que tal estigmatização é reproduzida pelo senso comum que naturaliza a ideia de que o morador de rua é uma figura que não pertence à sociedade por sua falta de condições financeiras e sociais, e que "ele está na rua porque quer". Conclui-se também que a falta de dados sobre a realidade atual da população em situação de rua na cidade de Santa Cruz do Sul dificulta uma análise imediata das singularidades existentes nessa comunidade, e que de fato não existem programas, núcleos ou demais meios locais que promovam a (re)integração e (re)inclusão do indivíduo que se encontra em condição de rua na cidade em estudo. Através do presente trabalho também foi possível identificar algumas das potencialidades dos indivíduos que vivem em situação de rua, sendo promovidas discussões onde o próprio morador de rua teve a possibilidade de identificar suas potencialidades e capacidades, na tentativa de desconstruir a forma estereotipada adotada pelo senso comum sobre sua realidade, além de promover e (re)afirmar sua capacidade de ser, agir e pensar.


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