O DESAMPARO NA ESCUTA PSICANALÍTICA: UM RELATO DE CASO

EDNA LINHARES GARCIA, DEISE GABRIELA FRANTZ NAGEL

Resumo


Introdução: As transformações da sociedade implicam em reposicionamentos sociais que, na atualidade, evidenciam crises de referenciais, trazendo efeitos nos modos de organização subjetiva. Para a Psicanálise, podemos entender que uma crise de referências simbólicas cria novas formas sintomáticas de mal-estar. Como exemplo, temos o transtorno do pânico que se configura como um tipo de transtorno de ansiedade, onde ocorrem crises inesperadas de desespero e medo de que algo muito ruim aconteça a alguém muito próximo ou a si próprio, mesmo diante da impossibilidade de tal ocorrência e de ausência de sinais de perigo. Nesta perspectiva, a situação de perigo remete à condição de desamparo inconscientemente esperada, e a angústia consiste numa reação frente a tal, reproduzida na situação de perigo, como um sinal de alarme. O diagnóstico Transtorno do Pânico referido no DSM conduz-nos a refletir sobre o desamparo teorizado na Psicanálise como algo da experiência humana que inaugura a necessidade do outro e que funda a capacidade de desejar. Objetivos: Apresentar reflexões realizadas a partir de um caso clínico atendido no Serviço-Escola, evidenciando as bases do diagnóstico e história do Transtorno do Pânico e de como a Psicanálise possibilita compreender tal fenômeno, buscando ferramentas que sustentem uma escuta qualificada nestes casos clínicos. Metodologia: Demonstramos a construção teórica freudiana a respeito da fobia e sobre o desamparo e, a partir do psicanalista psiquiatra Mario Eduardo Costa Pereira, evidenciamos a associação entre estas construções teóricas e o diagnóstico proposto pelo DSM-IV. Descrição do caso: A paciente de 24 anos, que chamaremos de Maria, foi encaminhada ao serviço com o diagnóstico de Transtorno de Pânico associado à abstinência de drogas. Medicada e com acompanhamento psiquiátrico, buscou ajuda quando a situação fugiu do seu controle e não conseguia sair de casa sozinha. Seus sintomas incluem insegurança, aperto no coração, suor frio, tremores, medo de um ataque cardíaco e de ficar inconsciente, sintomas que encontram-se descritos e relacionados no DSM-IV. Resultados e Discussão: A falta de amparo ou a ausência de sustentação é configurada como desamparo na psicanálise apenas quando evoca no sujeito a experiência subjetiva de estar (sub)imerso num jogo pulsional excessivo, colocando-o totalmente à mercê do outro, que pode ou não ajudá-lo com esse estado emocional. Maria sente-se sozinha, sem amparo, e se apresenta como se estivesse à deriva, sem enlaces na vida. A relação que estabelece com o pai é de dependência, que a mantém completamente a mercê do mesmo, inclusive para vir ou não à terapia, ou seja, se ele não a leva para os atendimentos, ela não vai, pois é tomada pelo medo e ataques de ansiedade. Entendemos o pânico como uma forma de manifestação afetiva que Maria encontra para enfrentar a condição do desamparo, na forma de temer a perda do ideal protetor ou a perda do amor idealizado. Conclusão: A escuta das narrativas de Maria, sustentada nas reflexões teóricas, permitem considerações, tais como: é próprio do humano a criação de formas de lidar com seu próprio sofrimento, como o isolamento, uso de substâncias químicas e aniquilamento das pulsões. Podemos pensar que Maria constrói duas estratégias: uma que se configura numa fuga do seu próprio sentimento, através das drogas ou do isolamento; e outra pelos estados de pânico que a incapacitam de pensar e a protegem do encontro com sua própria históri


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