(IN)VISIBILIDADE NO TRABALHO: ENTRE O RECONHECIMENTO E O DESGASTE MENTAL DE FUNCIONÁRIOS DE HIGIENIZAÇÃO E LAVANDERIA HOSPITALAR

MARCUS VINICIUS CASTRO WITCZAK, ELISE JULIA SEHN, RENATA DA SILVEIRA BORSTMANN

Resumo


A partir das nossas vivências no estágio integrado em Psicologia, no setor de Desenvolvimento Humano de um hospital, fomos mobilizadas por algumas questões referentes ao trabalho, o qual é central na vida do sujeito. Assim, pode ser tanto um espaço de realização e felicidade, quanto de produção de sofrimento e adoecimento. Enquanto lugar de satisfação e prazer, o trabalho pode contribuir para a saúde mental. Por outro lado, há fatores que produzem desgaste e adoecimento, sendo um destes a invisibilidade e a falta de reconhecimento do trabalho. O termo "trabalho invisível" caracteriza os tipos de ocupações de baixa qualificação, glamour, status, reconhecimento social e adequada remuneração. Nas instituições hospitalares este se mostra bastante evidente. Aquele trabalho que não é assistencial, que não possui relações entre o cliente/paciente não é visto, lembrado, enfim, reconhecido. Tínhamos o objetivo de compreender as relações entre trabalho, saúde mental, e invisibilidade nas equipes de higienização e lavanderia de um hospital da região central do estado do Rio Grande do Sul. Partindo do pressuposto de que a realidade é dinâmica e ativa, recorremos à bricolagem. Este método pode ser definido como a expressão através da seleção e síntese de componentes de uma cultura. Adotamos uma postura ativa, sem roteiros preexistentes, com a finalidade de criar processos de investigação ao passo que surgiram as demandas. Para tanto, acompanhamos os grupos de trabalho, numa perspectiva vivencial-relacional. Apesar destes profissionais estarem frequentemente em contato direto com questões como doença, morte e sofrimento, não são reconhecidos socialmente como "trabalhadores da saúde", por sua função não implicar a assistência direta ao paciente. Esta invisibilidade do trabalhador e do seu trabalho pode levar a dificuldades interpessoais e intrapsíquicas, inclusive estendidas para outros âmbitos da vida do sujeito (como a família). Dentre as possíveis manifestações de desgaste mental, segundo a perspectiva de Edith Seligmann-Silva, podem aparecer sinais/sintomas de fadiga, distúrbios do sono, medos e risco maior de acidentes de trabalho e transtornos mentais. Sendo assim, esgotamento e maquinização são frequentes. Dessa forma, para se distanciarem das vivências dolorosas (ou retardar a percepção do desgaste), os trabalhadores, muitas vezes, recorrem aos mecanismos de negação e autorrepressão, contribuindo para a alienação. Ficou evidente, também, que o reconhecimento resulta do "olhar do outro" e torna-se fundamental para dar sentido ao trabalho. Então, para que o trabalho tenha sentido para o sujeito, este precisa ser reconhecido, para que, desta forma, o sofrimento vivenciado possa ser transformado em fonte de prazer e realização. A partir deste, cabe reafirmar a importância da articulação entre o mundo social e a subjetividade do trabalhador da Higienização e Lavanderia hospitalar, pensando de que forma esta invisibilidade do seu trabalho implica nos processos saúde-doença. O reconhecimento, portanto, faz-se necessário para dar sentido às atividades que estão sendo realizadas, para que estas possam ser vivenciadas com saúde e satisfação.


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