DO QUESTIONAR-SE SOBRE O COTIDIANO DE TRABALHO: POSSIBILIDADES DE REFLEXÃO COM UM GRUPO DE TRABALHADORES HOSPITALARES

MARCUS VINICIUS CASTRO WITCZAK, JOSIELE RAQUEL BARCELOS ROSA

Resumo


Introdução: Este artigo relata uma prática grupal realizada durante estágio acadêmico de Psicologia em um hospital do interior do Rio Grande do Sul, com um grupo específico de trabalhadores, abordando as relações interpessoais no trabalho. A constituição de um grupo para reflexão com estes trabalhadores surge de um pedido institucional, possibilitando, neste espaço, que o diálogo e os questionamentos possam ocorrer de maneira afetiva, segura e transparente (SELIGMANN-SILVA, 2011). Objetivo: Facilitar a ampliação de habilidades sociais nestes trabalhadores, com o cultivo de relações mais saudáveis e maduras. Metodologia: Com o intuito de constituírem ambiente de confiança e acolhimento, baseado em observações clínicas e dinâmicas de grupo (OSÓRIO, 2013), proporcionando assim um espaço onde o trabalhador pode construir novas formas de experiência e o encontro com o novo/outro (ARAÚJO, 2013). Valorizando todas as interpretações dos sujeitos, a leitura dos gestos, das expressões e o modo como eles se organizam em um grupo. Os dados foram anotados em um diário de campo, que serviu de material de análise (SPINK, 2011). Principais resultados: Através do processo de observação, foi possível compreender o modo como os trabalhadores organizaram-se dentro do ambiente, identificar uma divisão entre a equipe e indiferença em relação ao grupo de liderança. Durante os encontros, uma das situações relatadas pelo grupo é o excesso de trabalho, pois estão tendo que suprir a demanda de trabalho com o quadro reduzido, gerando cansaço, dores de cabeça, insônia e dores pelo corpo, devido, também, ao aumento da jornada. Nas falas se faz presente o processo de "resistência" em adaptar-se a esta mudança, o qual está afetando o relacionamento da equipe, gerando afastamentos e competições dentro do grupo. Também há relatos de aumento de cobrança/pressão, uma "cobrança do tempo" e uma pressão atrelada ao desempenho, sentimentos de medo e ameaça transparecem durante as falas, gerando insegurança e aumento de ansiedade, reduzindo o prazer e proporcionando o sofrimento deste grupo ao realizar seu trabalho. Outra fonte de sofrimento é a falta de reconhecimento, este não necessariamente se reflete só em salário, mas em uma dimensão simbólica, atrelado às hierarquias e grupos com os quais se relacionam durante a realização das atividades. Conclusões: No decorrer dos encontros, o grupo evidenciou o quanto as relações de trabalho estão fragilizadas, entre equipe e lideranças. A redução no número de funcionários e o acúmulo de tarefas possibilitou o desenvolvimento de sofrimento no trabalho, de modo que, para não sofrer, o grupo estabelece estratégias de defesa firmando um "acordo coletivo". Porém, aqueles que não aderem a este acordo, acabam sendo excluídos pelo grupo, gerando instabilidade das relações, o que afeta diretamente a satisfação em realizar o trabalho. O grupo também revelou a necessidade de reconhecimento, este sentimento aparece atrelado à tentativa de tornar visível o trabalho realizado por elas, que neste momento aparenta estar invisível aos olhos da instituição. Ainda haveria muitas ações a desenvolver com o grupo, porém, a pedido da instituição, os encontros foram suspensos.


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