O presente trabalho objetiva problematizar os discursos que se apresentam cotidianamente na nossa sociedade sobre a loucura e seus efeitos sobre os modos de ver, pensar, compreender e vivê-la. A pesquisa refere-se ao trabalho de final de curso de Bacharelado em Psicologia, portanto ainda está em desenvolvimento. Os procedimentos metodológicos fundamentam-se na cartografia, conforme proposta de Deleuze e Guattari. A cartografia não é propriamente um "método", mas se constitui como uma forma de pesquisa que visa acompanhar processos, utilizando-se de recursos diversos e lançando mão da observação participante como forma de produção de dados. Estes são registrados através de um diário de campo, o qual se compõe de fragmentos diversos (falas, recortes de jornais, trechos de filmes, documentos, etc.), bem como dos sentimentos e inquietações da pesquisadora frente aos mesmos. Deve-se considerar a loucura não como um objeto já dado, pré-existente aos discursos, mas, seguindo as indicações de Michel Foucault, entende-se que os discursos constituem os objetos de que falam. Desse modo, a loucura tem diferentes contornos a partir dos diferentes discursos que a constroem, em cada tempo. No que se refere às práticas de "tratamento" dos loucos, a partir da década de 1960, a reforma psiquiátrica surgiu como um marco de um movimento instituinte da saúde mental, constituindo-se não só de uma política, mas de ações, compreensões sobre a diferença (mais especificamente, sobre a normalidade/anormalidade) e maneiras de cuidado, de promoção de saúde. No Brasil, o movimento tomou força nos anos 80, sendo que, na década seguinte, a partir da reforma psiquiátrica e de toda luta antimanicomial, vários dispositivos foram criados como, por exemplo, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e as residências terapêuticas. Tais dispositivos visam proporcionar o cuidado e possibilitar autonomia aos sujeitos com sofrimento psíquico, potencializando-os para sua reinserção na sociedade. Como resultado da própria reforma psiquiátrica, na contemporaneidade, muitas discussões sobre o lugar da loucura se fazem presentes, tanto no sentido de sua inclusão, quanto no que se refere ao preconceito e o desejo pelo distanciamento e isolamento dos denominados loucos. Nesse sentido, recentemente muitos discursos que questionam a própria reforma psiquiátrica têm sido produzidos, inclusive propondo a reativação do enclausuramento dos pacientes. Deste modo, ao longo do percurso da pesquisa, buscar-se-á analisar quais discursos são (re)produzidos sobre a loucura e o que provocam e determinam no modo de vida dos sujeitos.