SENHORA DE SI: A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO NO ROMANCE "HELENA" DE MACHADO DE ASSIS

CARLOS GILBERTO PEREIRA DIAS, EMANUELE HAAG

Resumo


Machado de Assis é um dos escritores brasileiros mais conhecidos mundialmente, tendo seus livros traduzidos para inúmeras línguas e um leque de estudos conduzidos sobre sua vasta obra, além de adaptações para o cinema e para a televisão. Portanto, o romance "Helena" foi escolhido por ser uma obra da primeira fase de Machado de Assis, mas que já deixava entrever os contornos que as próximas obras teriam: o amor contrariado, o casamento por interesse, uma ligeira preocupação psicológica e uma leve ironia. Uma leitura mais atenta permite a análise da personagem que dá título à obra, possibilitando o questionamento do estereótipo de heroína que lhe é atribuído devido a esse palpável "romantismo", pois Helena sacrifica-se por obra da consciência moral em um meio onde só a prudente autopreservação teria futuro. À primeira vista uma moça ingênua, aos poucos se torna possível identificar essa ingenuidade não como intrínseca, mas sim necessária, e até mesmo conveniente com o meio onde vive. Dessa forma, "Helena" é passível de várias interpretações, sendo possível identificar claramente as relações de gênero entre a personagem e o elenco masculino da obra, que nem sempre é uma relação de submissão. Ela nos surpreende em suas artimanhas e dissimulações para manter-se na sociedade na qual foi inserida, como uma típica personagem machadiana. A presente comunicação baseia-se na ideia de que a análise de uma obra literária sob o ponto de vista das representações sociais pode proporcionar um maior esclarecimento sobre o papel representado pelas mulheres na sociedade no século XIX, tornando possível, dessa forma, fazer uma análise do romance sob a ótica da História Cultural, tomando por objeto a compreensão das representações do mundo social pelos indivíduos que o veem. A análise dessa obra será orientada pela perspectiva teórica da nova História Cultural para a categoria de História das Mulheres e Literatura. Este estudo pretende analisar a representação do feminino na obra do escritor Machado de Assis através da personagem Helena da obra homônima, situada no Rio de Janeiro do século XIX (1859). O processo metodológico envolveu três processos: a revisão bibliográfica acerca do tema, o levantamento de fontes documentais (livro "Helena", Jornal das Famílias), e a análise dos materiais coletados. Escrever sobre uma personagem feminina no contexto do século XIX não é relatar simplesmente o que já se é conhecido, não é bater mais uma vez na tecla da submissão e da opressão feminina, mas sim procurar as brechas por onde se pode entrever a participação dessas mulheres na sociedade, e até que ponto a educação que recebiam não seria apenas um modo de "brilhar" nos salões elegantes, e sim uma das poucas formas que tinham de crescer dentro dos ambientes que lhe eram reservados. A mulher Machadiana está em sintonia com o mundo senhorial do século XIX, havendo assim uma dupla moral, que, paralelamente a seu expresso puritanismo, preceituava tacitamente condutas divergentes para homens e mulheres. Essa moral seria não algo natural, mas sim fruto de construção social em torno do que é masculino e do que é feminino.


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