A REPRESENTAÇÃO DA CAPOEIRA NOS ROMANCES O CORTIÇO E CAPITÃES DA AREIA

NORBERTO PERKOSKI, RONEI ALEXANDRE FRAGA DA CRUZ

Resumo


Este é um trabalho sobre a representação da capoeira nos romances O cortiço, de Aluísio Azevedo, e Capitães da areia, de Jorge Amado, sugerido pelo professor Dr. Norberto Perkoski, por conhecer minha história e trajetória na capoeira. Para realização do estudo, foram abordados aspectos históricos e sociais da capoeira no Brasil e desenvolvida uma análise nos romances anteriormente citados. Através desse estudo foi abordada a capoeira, seus praticantes, suas condutas, seus desvios e o que isso representou para o enredo das obras e para as personagens. A capoeira, durante anos, foi vista com ressalvas pela sociedade, seus registros no passado, marcados por lutas e muita violência, deixaram-na com cicatrizes e com histórico sombrio não muito confiável. Dificuldades e ignorância de governantes destruíram provas que mencionavam seu surgimento, causando discussões entre historiadores. Mesmo com a libertação dos escravos, os preconceitos sociais e raciais se mantiveram. Os negros se viram obrigados a criar maltas de capoeira, que seriam grupos organizados de excluídos da sociedade. Durante o seu crescimento como luta, a capoeira sofreu muitas transformações, desenvolvendo inclusive uma mutação para que não fosse extinta e nessa adaptação absorveu outras nomenclaturas que carrega até os dias de hoje, como jogo ou dança. Na fase em que foi apenas luta, o capoeirista vivia, pertencia e dependia das maltas de capoeira. Elas foram preponderantes para o capoeira como indivíduo, dando ao praticante um propósito de sobrevivência em tempo de discriminação social e segregação racial. No romance O cortiço, o autor descreve como as maltas sofreram interferência do meio ambiente, uma vez que os bandos eram vistos como produto do local em que viviam. Suas ações eram baseadas na realidade da cidade do Rio de Janeiro, em uma época em que os cortiços eram a alternativa para as pessoas rejeitadas por uma sociedade hipócrita e interesseira. Já no plano individual, a capoeira aparece como luta na figura da personagem Firmo. É imprescindível destacar que, mesmo com todos os indicativos de descrença no homem, refletido nesse contexto pelas maltas, o autor consegue sugerir sinais de ética até mesmo naqueles que tinham tudo para desistir de uma vida sem esperança. Em Capitães da areia, de Jorge Amado, o autor também usa a vida real como matéria literária para seu romance. A capoeira, para os meninos de rua, em uma Salvador cheia de ódio e abandono social, serve como uma possibilidade de resistência para sobreviver e conseguir ascensão perante o grupo. As personagens recebem um tratamento afetivo por parte do autor que compactua com o grupo marginalizado, focalizando suas atitudes por outra ótica. Suas declarações em relação aos menores infratores isentam os mesmos de suas possíveis culpas, responsabilizando a sociedade que ignora os fatos. Conclui-se que a capoeira se manifestou historicamente como um elemento de resistência: em época de maltas, manteve um grupo unido por um propósito de sobrevivência e tentativa de inclusão, como se pôde verificar em O cortiço; em momentos de descaso e abandono, conseguiu agregar valores e estabelecer um desejo comum de confiança mútua entre aqueles que não serviam como referência para uma sociedade que, opressora, os excluía, como se constatou na obra Capitães da areia.


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