A MULHER NA CLÍNICA PSICANALÍTICA: CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS DESLOCAMENTOS.

EDNA LINHARES GARCIA, MAURICIO WINCK ESTEVES

Resumo


Introdução: Pensar sobre as pacientes mulheres na clínica psicanalítica, hoje, implica refletir sobre os deslocamentos efetuados nos discursos de uma sociedade. Deslocamentos esses que produzem novas formas de sofrer, de relacionar-se com a feminilidade/masculinidade e com a posição feminina/posição masculina (passivo/ativo). Sexualidades e posições do sujeito no discurso são espaços de livre circulação tanto para homens quanto para mulheres, embora os discursos em voga em um contexto determinado delimitem essa liberdade. Concebemos assim pelos vieses da literatura psicanalítica, a partir da qual também pensamos haver uma diferença primordial entre homens e mulheres que se dá a partir de uma diferença mínima sexual, a qual nos inscreve no mundo da linguagem como meninos ou como meninas, isto é, antes de mais nada, somos falados de um lado ou de outro. Objetivos: Objetivamos com esse estudo refletir sobre a clínica hoje, a partir dos deslocamentos produzidos no discurso, que concedem às mulheres maiores possibilidades de construir uma própria narrativa e vivenciar as nuances do desejo a partir de posições masculinas e a partir da masculinidade, lembrando que não são condições biologicamente destinadas, mas sim resultantes de configurações discursivas em um dado contexto. Pretendemos analisar os efeitos subjetivos decorrentes e evocações dirigidas à clínica para responder a esses novos deslocamentos, bem como, ressaltar as implicações em conceitos teóricos. Metodologia: Por meio de um estudo de caso clínico, oriundo do estágio supervisionado em um serviço-escola, percorremos conceitos desde a metapsicologia freudiana até alcançar produções teóricas contemporâneas que relativizam os conceitos a partir dos contextos históricos. Tomamos como base autores como Juan-David Nasio e Maria Rita Kehl. Resultados e conclusões: Embora os conceitos de metapsicologia se mostrem úteis e até mesmo atuais na análise do caso clínico específico, também é de grande importância flexibilizar tais conceitos para acompanhar os deslocamentos produzidos na sociedade atual. Isso está implícito na própria teoria psicanalítica, pois considera que à medida que a sociedade muda, os sujeitos se deslocam das posições que ocupavam em um certo discurso e o Falo (como significante) circula, de modo que a escuta deve ser plástica para escutar aquilo que quer falar nos diversos contextos. A partir das contribuições de autores contemporâneos, tomamos contato com os conceitos de desamparo e do trabalho da pulsão de morte como produção de diferença, como contrapartida à pulsão de vida e sua tendência à repetição. Lançamos mão desses conceitos para responder aos deslocamentos na sociedade em que o brilho fálico e a supremacia da masculinidade são também causadores de mal-estar. O trabalho possibilitou que pudéssemos refletir sobre como responder na clínica psicanalítica a partir dos deslocamentos efetuados no discurso. O caminho apontado para isso parece ser considerar a teoria em seu devir mutável, para além de sua fixações, apostando em novos discursos e acompanhando os deslocamentos.


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