A CONSTRUÇÃO DO PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

MOISES ROMANINI, RAFAELA PEREIRA SILVA

Resumo


O desenvolvimento da Reforma Sanitária e Reforma Psiquiátrica no Brasil ocasiona diversas modificações no campo da saúde pública e no cenário das práticas e teorias da saúde mental. Esses movimentos possibilitaram um novo olhar e uma nova compreensão acerca dos processos de saúde e doença, embasadas em novas políticas públicas de saúde, construção de redes e serviços de cuidado, como a criação dos Centros de Atenção Psicossocial, serviços substitutivos aos Hospitais Psiquiátricos. Deste modo, este novo cenário provoca e sugere alguns desafios para os trabalhadores de saúde no que tange ao atendimento a pessoas com sofrimentos psíquicos. Esse novo olhar se alicerça no campo da Saúde Mental e Coletiva, embasando-se de referências teóricas para fundamentar as novas práticas. Portanto, o objetivo geral da pesquisa foi compreender como os trabalhadores de uma equipe de saúde mental de um Centro de Atenção Psicossocial constroem e desenvolvem os Projetos Terapêuticos Singulares dos usuários do serviço, considerando que a equipe atuante nesse serviço é caracterizada como equipe multiprofissional. A presente pesquisa justificou-se então na necessidade de compreender como cada um entende e de que forma propõe suas práticas, assim como de que forma concebem a demanda dos usuários de saúde mental. O trabalho possibilitou problematizar e refletir sobre tais práticas, bem como delinear possíveis possibilidades e soluções. A pesquisa foi desenvolvida de forma qualitativa na qual adotou-se a análise temática dos dados construídos, a partir de entrevistas semiestruturadas, diário de campo e participação nas reuniões de equipe. Considerando a análise dos dados coletados durante as entrevistas com os trabalhadores, pode-se perceber que existe um entendimento comum sobre o PTS, enquanto ferramenta potente tanto para o serviço quanto para o usuário. O dispositivo se mostra importante em vários aspectos como, por exemplo, na organização do serviço, na oferta terapêutica, e principalmente, quando o usuário se apropria dele e entende a importância da sua participação como o principal protagonista do seu cuidado. O PTS permite que os espaços de saúde produzam e entendam os processos de subjetivação, o qual os usuários e nós profissionais, somos constituídos cotidianamente. Deixar-se abrir ao olhar que a clínica ampliada propõe, permite entender a constituição de sujeitos políticos/sociais, emaranhados por inúmeras instituições, e no modo como isso reflete nos modos de vida. A organização do trabalho é transversalizada pelo dispositivo, que sugere uma reformulação dos processos do fazer em saúde, configurando novas práticas profissionais e consolidando um modelo de atenção, que repensa o objeto da saúde e considera os sujeitos em todas as suas dimensões e como pertencentes a determinados contextos, com diferentes necessidades e potencialidades. A integração dos saberes é fundamental para a efetivação da política, bem como a descentralização do cuidado, estimulando a participação popular, ampliando o protagonismo dos sujeitos e constituindo novos modos de ser e agir. Assim, o PTS, além de produzir saúde, produz sujeitos e modos de existência, e consolida práticas que expandem as potências dos sujeitos.


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