OFICINA COM SURDOS: A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO UMA L2

CARINE LUCIA MARQUES, HELENA JUNGBLUT, REINALDO VALDEZ RODRIGUES DA SILVEIRA, ELEMAR GHISLENI, ANGELA COGO FRONCKOWIAK

Resumo


O Programa de Bolsas de Iniciação à Docência PIBID/UNISC tem como objetivo proporcionar, aos acadêmicos das licenciaturas, experiências dentro do contexto escolar. Assim, no Subprojeto Letras Português, usufruímos destas vivências para nos tornarmos profissionais mais qualificados e com pensamento crítico em relação a nós mesmos no que diz respeito à profissão de educador. Tal programa nos possibilitou experienciar o ensino da Língua Portuguesa (LP) de forma singular, que diz respeito à instituição em que atuamos, a Escola Nossa Senhora do Rosário, localizada na cidade de Santa Cruz do Sul, no vale do Rio Pardo, referência na educação de surdos. Entre os muitos caminhos que poderíamos abordar neste trabalho, decidimos eleger o nosso processo de aprendizado consciente e científico enquanto professores das Letras em uma nova realidade: a causa surda e o ensino do português como uma segunda língua (L2) em sua escrita. De acordo com Silva (2008), uma educação bilíngue de surdos deve inserir em seu currículo a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a escrita da Língua Portuguesa como L2 em seu todo, inclusive por meios que focalizem o visual e a cultura do aprendiz, ou seja, condiz com um processo de aquisição e uso de cada língua em seu papel social. O desenvolvimento da escrita, para um aluno que tem a Libras como sua língua materna, não se limita somente a aprender um novo código, mas a assimilar as diferenças dos sistemas fônico, fonológico, morfológico e lexical desse novo código, a LP, e também o modo como relações semânticas se estabelecem. Além disso, há paradigmas criados em relação ao sujeito surdo que, de modo geral, é visto como deficiente ou que deveria passar por um processo de "normalização", separando-o do contexto escolar. A percepção das similaridades e diferenças das duas línguas permite uma gama de reflexões acerca das formas de se relacionar, se identificar, se distanciar e se comunicar com sujeitos linguisticamente diferentes. Falamos aqui em uma experiência vivida na coletividade surda, sem desconsiderar as singularidades de cada estudante. Em nossa atuação nas oficinas da escola, buscamos enfatizar a integração de Libras e LP para que elas possam coexistir dentro da sala de aula, sendo igualmente importantes para a compreensão do surdo com o meio social em sua totalidade. Ao longo das atividades, nos deparamos com alguns impasses, fomos percebendo que precisávamos de uma metodologia que não a mesma aplicada a alunos ouvintes. Seria necessário algo que fizesse sentido para os estudantes surdos, que procurasse abarcar as diferenças entre Libras e LP e que, ao mesmo tempo, lhes fosse útil num processo de vivência e interação entre eles. Nas nossas oficinas, procuramos desenvolver atividades que estejam de acordo com o cotidiano deles, utilizando recursos visuais e ampliando o tempo de realização das atividades propostas. Vale ressaltar que nós, enquanto acadêmicos de Letras, já havíamos cursado a disciplina curricular de Libras, entretanto, foi na prática, no contexto escolar da nossa atuação, junto às intérpretes que mediam e possibilitam nossa comunicação com os surdos, que percebemos como a língua de sinais se estrutura linguística e culturalmente. E sobretudo é nesta vivência que, aos poucos, vamos percebendo que o aprendizado se dá em suas diferentes formas e significados, e que todos nós aprendemos algo, sempre.


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