REPENSANDO OS N(Ó)S DE VINCULARIDADE: UMA REFLEXÃO DA PRÁTICA CLÍNICA CONTEMPORÂNEA ENLAÇADA PELO MEDO DA FRAGILIDADE DOS LAÇOS SOCIAIS
Resumo
Introdução: As diversas formas de se relacionar com o outro fazem parte progressiva do campo de análise clínica psicológica. As transformações nos modos de estabelecer vínculo, de mantê-lo e mesmo de romper com ele, acompanham as constantes modificações do campo social contemporâneo e são importantes conexões de análise para pensar o sofrimento humano. A formação, o manejo e o rompimento dos laços sociais de afeto sempre evidenciaram inquietações de diversos estudiosos e clínicos em todo o mundo. Em sua teoria, Freud (1927) já enlaçava importantes aspectos sociais interconectados aos modos singulares de subjetivação, de forma que o sujeito singular também é atravessado por um campo de intersubjetividade, inerente a si, condizente com os laços que o formam enquanto sujeito de relações. Desta forma, torna-se importante analisar a experiência da prática clínica envolta da complexidade relacionada aos modos de ser e estar com o outro no mundo, contextualizando aspectos condizentes com a atual sociedade de relações. Objetivos: Analisar as implicações do manejo dos laços sociais de afetos e suas peculiaridades histórico contemporâneas na prática clínica psicológica, adentrando os discursos sociais relacionados ao medo da solidão, bem como, analisar a complexidade metodológica da pesquisa clínica psicanalítica e as implicações transferenciais no manejo desta prática. Metodologia: Utilizou-se como aporte técnico metodológico a escuta clínica psicanalítica de 8 pacientes em atendimento psicológico no Serviço Escola de uma Universidade do Sul do Brasil. A análise e o aprofundamento teórico foram embasado por diferentes autores de base psicanalítica (Freud, Lacan, Iribarry) e demais autores (Bauman, Ferrari) que realizam produções e estudos sobre os fenômenos sociais contemporâneos. Principais Resultados: Possibilitou-se a percepção de uma demanda concomitante a todos os pacientes em análise, relacionada ao medo das fragilidades dos laços afetivos no espaço social contemporâneo e a dicotomia dos discursos sobre a solidão, ora aparecendo como temor, ora aparecendo como desejo. Percebeu-se a implicação destes fatores no tratamento psicológico e nos modos de sofrimento característicos em todos os pacientes, bem como da possibilidade e da riqueza da experiência metodológica de pesquisa baseada na escuta psicanalítica. Conclusão: O sujeito humano é eminentemente um ser de relações e de contatos constituintes. Desta forma, o sofrimento que aparece na clínica de maneira consoante a todos os pacientes, demonstra o processo de subjetivação individual atravessado direta ou indiretamente pelas relações de afeto que tem com os demais, demarcando neste espaço discursivo a dubiedade entre o medo da solidão e o desejo de estar só. Na prática clínica fica evidente que o contexto relacionado ao campo singular é constantemente afetado pelo meio social, histórico e relacional dos sujeitos. Sendo assim, se torna evidente que a clínica é atravessada diretamente pelo espaço/tempo de instâncias individuais, sociais, culturais, históricas, afetivas, políticas e econômicas, não havendo possibilidade de olhar para o sujeito sem implicá-lo no contexto onde vive suas diversas relações. Assim, se torna imprescindível construir uma clínica que possibilite ao sujeito trilhar seu caminho da forma mais condizente com o que lhe é peculiar, seja caminhando sozinho, seja desatando, atando, ou reatando n(ó)s de vincularidade social.
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