SUJEITO DE LINGUAGEM: ANOREXIA E BULIMIA, E QUANDO O CORPO TOMA A VOZ?

ANGELA ALENICE ROTHMUND, EDNA LINHARES GARCIA

Resumo


Pensando nas questões culturais e sociais demandadas nos encontros dentro do SIS, em relação ao corpo, ao peso, ao sujeito de linguagem biopsicossocial. Este lugar em que se dá a prática clínica fixa olhos nas mazelas atuais inscritas em muitos corpos, que, como sujeitos de linguagem, muitas vezes, dão passagem ao ato, no qual o inconsciente toma a voz. O desafio de uma clínica que permita andar em espaços multidisciplinares, a uma clínica que consiga o alcance a todas as 'vozes' do outro, é motivo de muitos percalços. E quando o sintoma ou ato toma o lugar da linguagem? A sociedade cada dia mais demanda do sujeito, felicidade, corpos perfeitos, superficialidade de vínculos, individualidade. Os modelos de corpos femininos, têm um efeito identificatório de alto potencial. Esse Outro, que inscreve seus desejos em nossos corpos? E essa cultura midiática e globalizada, conectada, nem mente, nem corpo tem espaço para descanso, ou para subjetivar-se? A partir de alguns recortes de encontros na clínica, busca-se pensar o lugar da voz da feminilidade na atualidade, muito além da patologia, mas as funções do sintoma, e o que ele vem denunciar. Neste sentido, os sintomas de histeria de conversão não aparecem mais por meio de "sintomas recortados", mas por uma tentativa de "apagar o corpo inteiro, ilustrada pela figura clínica das anoréxicas atuais". Concebe-se a anorexia como a forma moderna de um conflito específico da mulher, em que se unem as características e os aspectos de escândalo da histeria dos tempos de Freud. Assim como a histeria ensinava sobre a feminilidade e a história das mulheres, a anorexia estaria mostrando o enigma na atualidade sobre a feminilidade e a sexualidade. A recusa alimentar não é característica de nossos tempos, a significação sim. Pensar que a anorexia e bulimia andam no campo do "tudo ou nada". O significante da palavra anorexia significa sem desejo, sem apetite, atualmente perdeu seu sentido quando se utiliza o termo, sendo assim, será que não se está ignorando o "x da questão, e portanto, também do feminino?". A psicanálise não esquece de mostrar, que o que a anoréxica se recusa a comer, isso não significa ausência de vontade, ou mesmo de desejo de comer, sim que tal recusa esconde algum desejo, que pela sua ambiguidade só pode passar por uma vontade de recusá-lo. Na bulimia não se trata de um corpo recusado em sua materialidade, como na anorexia, mas de um corpo estranho, hiperpresente e exigente, em que as demandas surpreendem pela falta de conexão com o ego do sujeito. Levando jovens a observarem assustadas a selvageria do ato bulimico deste corpo que parece não lhes pertencer. As vivências traumáticas deixam traços psíquicos que, embora articulados à fantasia, se inscrevem no corpo. E quando o paciente enaltece o gozo em um sintoma, que no saber médico deveria ser sanado? (REFOSCO, 2010), referem-se ao vômito como se o "sujeito do inconsciente insiste bravamente e pede a palavra". Nas psicopatologias da contemporaneidade, os transtornos alimentares têm lugar de destaque, que nos convidam a escutar com o ouvido atento de quem acolhe uma demanda de questionamento constante das teorias, a fim de que se possa fazer da clínica um espaço de investigação, reflexão e aprendizado sobre o sofrimento humano. Uma clínica que permita ser multidisciplinar, ouvir para além do sintoma e da nosologia dos manuais, além dos processos de automatizar e padronizar nossos corpos e a existência humana.


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