AS FACES DO DUPLO NA OBRA DRAMÁTICA VESTIDO DE NOIVA
Resumo
Objetivamos, por meio deste trabalho, analisar o elemento do duplo na obra dramática Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues. A peça psicológica, que marcou a dramaturgia brasileira, foi encenada pela primeira vez em 1943 e proporcionou glória ao seu criador, ao mesmo tempo que ofereceu ao teatro brasileiro a inovação e a vivacidade de que carecia. Dentre as muitas leituras que a peça permite, abordaremos o drama sob a perspectiva teórica do mito do duplo, que costura a relação entre as personagens e se manifesta em várias partes do texto. Para realizar essa abordagem, levantamos as teorias sobre o tema, que são diversificadas e podem expor um viés tanto positivo quanto negativo, ambos presentes na peça. As acepções do mito variam de acordo com as culturas e com os períodos das suas manifestações. Para que essa relação de significados fosse construída, consultamos os escritos de teóricos como Freud (1969) e Lacan (1998), que trazem o duplo como um fenômeno psíquico. Além disso, obtivemos definições originadas de dicionários de símbolos e mitos, descritas por autores como Nicole Bravo (1997), Ana Maria Mello (2007), Jean Chevalier e Alain Gheerbrant (1998). Há, ainda, contribuições advindas do trabalho de Marta D’Agord (2013). Também elencamos as principais características do teatro e os motivos pelos quais ele se diferencia de outros gêneros literários, apontando os principais escritores e suas produções, dentro das respectivas escolas literárias, que tiveram alguma relevância na construção do teatro que temos hoje. O trajeto construído por tais autores formou um crescente que teve seu ápice em Nelson Rodrigues, importante escritor do século XX, que modificou a estrutura da dramaturgia brasileira moderna, com a criatividade e ousadia que aplicava às suas criações, características fora dos padrões para a época. O escritor produziu obras inovadoras, carregadas de características que admiraram a crítica e o espectador daquele período e continuam movimentando opiniões e publicações até os nossos dias, fazendo também com que percebamos a importância da obra rodriguiana para o teatro brasileiro. Depois de levantar tais teorias e entender seus significados, examinamos mais de perto as características que compõem as personagens da peça em questão. Assim, foi possível perceber que a obra entremeia-se por diferentes tipos de duplicações, logo, em uma mesma personagem, se fazem presentes tanto o duplo positivo, que enriquece o ser, quanto o duplo negativo, que antecipa acontecimentos nefastos. Além disso, até mesmo os fatos que se sucedem entre as personagens da peç, baseiam-se em duplos. A própria continuidade da peça após a morte da protagonista pode ser associada à duplicação de seu ser em um espectro ou uma alma. Este trabalho vincula-se à linha de pesquisa Processos narrativos, comunicacionais e poéticos, que compreende a investigação dos processos de conhecimento e de sentido inerentes à leitura de textos de natureza literária e comunicacional, envolvendo o estudo de produções escritas, imagéticas, sonoras e hipertextuais.
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