AS MULHERES MEDIEVAIS: POTENCIALIDADES ENTRE O CONHECIMENTO HISTÓRICO ACADÊMICO E ESCOLAR
Resumo
Reconhecendo a necessidade de relacionar ensino de história e produções historiográficas, ou seja, os conhecimentos acadêmicos - pesquisas e debates, para o conhecimento escolar – suas abordagens e aprendizagens, este trabalho tem como objetivo a aproximação dessas diferentes realidades de construção de conhecimento, compreendendo que a sua qualidade e relevâncias não devem ser interpretadas de um modo acentuadamente hierárquico, ou seja, não são superiores ou inferiores, mas sim, diferentes. Além disso, sabemos da carência de uma abordagem histórica sobre os diferentes papeis sociais ocupados pelas mulheres nos diversos períodos históricos – neste trabalho, especificamente na Idade Média, o que acaba dificultando o debate pertinente às questões de gênero. Tendo em vista que o livro didático, muitas vezes, ocupa o papel de centro gravitacional articulador e formador do currículo e da sequência de temáticas a serem trabalhadas na disciplina de história no ambiente escolar (CAIMI, 2002, p. 33) torna-se necessário compreendê-lo para além de uma visão estanque em si mesmo, ou seja, incorporando outros elementos de comparação para uma análise de conteúdo qualitativa. Sendo assim, optou-se por relacionar a temática dos papéis sociais das mulheres medievais na produção historiográfica e no conteúdo de livros didáticos. Como parâmetro, utilizou-se o livro A mulher na Idade Média de José Rivair Macedo, de 1990 e o artigo de Edlene Oliveira Silva, intitulado As filhas de Eva: religião e relações de gênero na justiça medieval portuguesa, publicado em 2011, ambos em comparação com os livros didáticos História e Movimento dos autores Gislane Campos Azevedo e Reinaldo Seriacopi, do ano de 2013 e História Sempre Presente, de autoria de Antonio Pedro e Lizânea de Souza Lima, de 2010. Nas produções historiográficas analisadas, os papéis sociais das mulheres aparecem restritos a três modelos femininos: ao da Eva – pecadora responsável pelo pecado original; ao da Madalena – pecadora redimida; e ao da Virgem Maria – uma figura maternal e santificada. Dessa forma, vista como uma figura pecaminosa que estava sempre atrás da figura masculina, cabia à mulher o papel de reprodutora dentro do matrimônio ou sujeição vida religiosa. Nos livros didáticos analisados, encontramos duas abordagens sobre a temática: em um há uma contextualização com a atualidade, introduzindo o capítulo com ideias gerais do movimento feminista. Apresenta também mais informações sobre a imagem feminina do período medieval construída pela Igreja, retratando a hierarquia social vigente tendo como base o princípio de castidade. Em contrapartida, no outro livro há uma breve abordagem referente às mulheres medievais, apenas referindo-se a elas no contexto de relações matrimoniais, não possuidoras de direitos de herança em terras, mas apenas em bens móveis como dote. Procurando esta interlocução entre o conhecimento acadêmico com o escolar, observamos que há uma grande dificuldade em encontrar livros didáticos que se refiram à história das mulheres medievais, porém, apesar da dificuldade, existem obras que constroem essa contextualização sobre a temática. É importante ressalvar que não constar no material didático, não é empecilho para que o tema não seja construído pelo docente em sala de aula, havendo a possibilidade de buscar apoio em pesquisas do meio acadêmico.
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