UM OLHAR AOS ESQUECIDOS: RELATO DE UMA ANÁLISE INSTITUCIONAL EM UMA VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE UM MUNICÍPIO DO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL

Kamilla Mueller Gabe, Ana Flávia Fuerstenau, Karine Vanessa Perez

Resumo


O presente trabalho consiste no relato de experiência vivida na disciplina de Estágio Básico A - Processos Institucionais, do curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul, baseada na Análise Institucional (AI) do departamento de Vigilância Sanitária de um município do interior do Rio Grande do Sul. Uma AI possibilita a reflexão e a ressignificação do modus operandi do trabalho, através da produção de microcrises nas instituições, na medida em que os sujeitos voltam o olhar sobre suas próprias práticas e, assim, abandonam uma condição de alienação. O local em que se atuou é uma instituição que visa ao controle da salubridade dos estabelecimentos municipais, através de fiscalizações, ouvidoria, e orientações em medidas sanitaristas. O estágio em questão fora autorizado pela Secretária de Saúde que, preocupada com “a falta de motivação do setor” (sic), que considerou oportuna a inserção. A AI aconteceu por meio de nove visitas semanais, em que foi possível observar as relações que atravessam a instituição, através de um espaço criado para dialogar sobre as práticas diárias e concepções sobre o local de trabalho, sob o ponto de vista dos trabalhadores. Inicialmente, notou-se dificuldade na compreensão da proposta da AI, bem como movimentos de resistência ao processo de reflexão. A partir da fala de um dos servidores, pôde-se compreender que, dentro do serviço público, existe o receio de uma perseguição, que funciona como uma punição por parte das instâncias superiores quando um age em desacordo com as normas implícitas da política interna. Assim, compreendeu-se também a situação vigente e, a partir disso, trabalhou-se na reiteração do objetivo do trabalho de maneira mais sutil, respeitando-se os limites impostos, para que se firmasse um vínculo de confiança. Sob esse cenário, aos poucos pôde-se notar repetições em todos os discursos: havia uma carência enorme de assistência por parte das estâncias superiores, que, conforme os relatos, deixava-os à própria conta, tanto para a resolução de problemas como para a atualização de conhecimentos, bem como de investimentos básicos em infraestrutura. Além disso, havia também uma convenção dentre os servidores municipais que pressupunha que trabalhar na Vigilância Sanitária era uma forma de castigo. Percebeu-se, assim, que a demanda de trabalho era sobre o sentimento de desvalorização desses trabalhadores, tanto pela população em geral quanto pela Prefeitura, bem como um sentimento de impotência de reivindicação. A partir disso, buscando uma maior vinculação do público com o departamento, e visando a proporcionar que os servidores pudessem enxergar seu nome como parte de uma grande equipe, optou-se pela elaboração de um mural com a identificação de cada profissional. Em suma, pôde-se concluir que a constante desvalorização de um trabalhador é capaz de criar uma cadeia de problemáticas para um departamento e para um serviço. Sabendo que o trabalho desenvolvido na Vigilância Sanitária é de extrema importância para a sociedade, torna-se indispensável a adoção de medidas mais salutares para toda a equipe.

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