VAMOS FALAR SOBRE O LUTO?

LARISSA DUTRA AZAMBUJA MAGALHÃES, IVA SELMIRA VIEBRANTZ, LAURA BERENICE DIAS PACHECO, LILIAN THAIS KONZEN, LUCIANA MAURIN BORGES, MICHELE LUÍSE CLAAS, MICHELE FERRARI, DULCE GRASEL ZACHARIAS

Resumo


Tão natural quanto o nascimento, a morte é parte integrante do desenvolvimento humano. Contudo, ainda é encarada como um tabu capaz de promover reações psicoemocionais como a angústia, o medo e a ansiedade (LIMA et al. 2017). De acordo com Tavares (2018), o luto traz a marca da subjetividade e caracteriza-se como um processo sem regras e modelos prévios. Nesse sentido, o presente resumo se refere à realização do grupo terapêutico Vamos falar sobre o luto? e foi desenvolvido pelo Serviço de Psicologia do COI/HAN, sendo atividade integrante da disciplina de Estágio Integrado em Psicologia. Percebendo a carência de um espaço de escuta e fala para pessoas enlutadas o grupo teve por objetivo oportunizar momentos para a verbalização e a reflexão das vivências de morte e luto, visando ao acolhimento e a construção coletiva de novos significados para o fenômeno, sendo o grupo importante suporte e potencializador da capacidade de enfrentamento de cada participante. A metodologia utilizada para o desenvolvimento e análise do grupo foi a narrativa, cujo método guarda relação com a noção de que contar histórias desempenha um importante papel na conformação dos fenômenos sociais (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2015). A partir das narrativas dos participantes, emergiram três temáticas principais: o luto simbólico, a morte na família e o impacto sofrido pelo profissional da saúde diante da morte e do luto. Em relação ao luto simbólico Bezerra, Reis e Monteiro (2018) descrevem que há a perda de algo que possui muito significado na vida da pessoa enlutada sem se dar, contudo, a morte. É o luto em relação a algo que é cheio de significado, que possui muita validade, mas não uma vida em si. Um exemplo desta demanda é a perda do cabelo ou da mama resultante do tratamento oncológico. Trata-se de evento que acarreta sofrimento para o indivíduo e cuja perda necessita ser elaborada através do processo do luto. Foi possível identificar a necessidade de adaptação frente ao novo corpo para encontrar uma nova imagem corporal e seguir em frente. Quanto à perda de alguém na família, percebeu-se que por se tratar de uma temática comum a todos, os participantes em sua maioria identificaram-se diante dos sentimentos externados por estes enlutados. Para Reis e Silva (2009), as perdas são naturais no ciclo de vida familiar, constituindo e mantendo a instituição ao longo de todos os estágios. A morte, que em outro momento social já foi experienciada de forma mais natural hoje é institucionalizada e distanciada das famílias, tornando-se um tabu e dificultando que as mesmas vivam um processo de luto mais socialmente aceito. Sobre o profissional da saúde há que se compreender que pode haver a vinculação entre o mesmo, o paciente e a família. De acordo com Arantes (2016), não é tarefa fácil administrar a compaixão necessária para o trabalho nesse contexto, onde é importante haver compreensão e certa conexão diante da dor do outro, mas sem tomá-la para si. O grupo terapêutico Vamos falar sobre o luto? surgiu diante da necessidade de que seja oferecido junto ao Serviço de Oncologia um espaço para apoiar e acolher indivíduos enlutados, possibilitando a fala e a escuta sobre a terminalidade e especialmente o luto, seja ele real e concreto, antecipatório ou simbólico. Nesse sentido, o grupo se apresentou enquanto importante estratégia para produzir saúde mental a partir da verbalização e da reflexão sobre o luto.


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