DIÁRIO DE BORDO

Cláudia Schvingel Klein Bühring, Angelica Vier Munhoz, Ieda Maria Giongo

Resumo


O presente trabalho tem como objetivo caracterizar metodologicamente o uso do “diário de bordo” como uma das ferramentas metodológicas utilizadas em uma pesquisa de tese em andamento que problematiza como determinadas memórias de um grupo de professores foram se constituindo em discursividades sobre o aprender. O diário de bordo possui um grande potencial metodológico para alicerçar o registro e a reflexão do pesquisador e dos pesquisados, dando suporte ao processo investigativo. Numa perspectiva mais geral, o diário assume um estatuto de instrumento de pesquisa, uma técnica com diferentes especificidades, está a serviço dos pesquisadores e de quem faz parte da pesquisa. Conforme alguns estudos, na Idade Média e na Renascença, o diário era um gênero de literatura, que apresentava histórias reais ou imaginárias. O diário era utilizado pelos viajantes como um meio de registro sobre as novas descobertas através de relatos de itinerários e pelas próprias experiências. Este era conhecido como diário de bordo ou diário de viagem. Esta forma de conceber o diário como um documento de viagem permite o registro de informações pertinentes ao processo da pesquisa, contendo detalhes sobre fatos e descobertas acerca do problema da investigação. Ao ganhar função de dispositivo, não possui a função de simplesmente concluir uma etapa de trabalho e consequentemente apresentar resultados, mas sim opera com problematizações. Por isso, demais autores chamam esta forma de conceber o diário de bordo como “pesquisa-intervenção”, que requer uma política de narratividade e se apresenta como um “desvio metodológico”. No diário de bordo são realizados registros de cunho inteiramente pessoal, demarcando os acontecimentos mais importantes que aconteceram durante o trajeto da pesquisa. O diário de bordo é uma forma de registrar a experiência vivida na forma de um tipo de textualidade, ou seja, escrita. Os registros traduzem os atos falhos, as escutas dos lapsos que escapam ou fogem pelas linhas do inconsciente das Instituições, e nesta pesquisa em quatro Escolas de Curso Normal (Magistério) de abrangência da Terceira Coordenadoria Regional de Educação (3ª CRE) do Estado do Rio Grande do Sul. Os professores voluntários da pesquisa, receberam um caderno intitulado de “Memórias do Aprender”. O caderno, nas mãos de cada professor, recebeu uma grande missão: Registrar memórias produzidas durante as oficinas. Como resultados, aponta-se que o trabalho de pesquisa deve envolver-se pelo registro e não somente daquilo que é pesquisado, mas do próprio processo da pesquisa. Este é um instrumento de pesquisa potente que facilita a aproximação entre pesquisador e pesquisados. O escrever em forma de diário é um dispositivo que se associa aos processos de criação. O registrar nesta perspectiva é da ordem do inacabado, é um ato inseparável do devir, ou seja, é produção de subjetividade. Por fim, ao registrar marca-se o que afetou, dando visibilidade às alegrias e tristezas que foram produzidas durante os encontros das oficinas entre as pessoas e os materiais de estudo.


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