CLERO E O ESTADO: CONSIDERAÇÕES DE MARIA LACERDA DE MOURA SOBRE A RELAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA E OS ESTADOS FASCISTAS NA DÉCADA DE 1930
Resumo
Maria Lacerda de Moura foi uma intelectual que durante a primeira metade do século XX dedicou-se a temáticas como a educação, a “condição da mulher”, expressão utilizada pela mesma que se referia a questões como a maternidade livre, o direito ao divórcio, de escolha do parceiro ideal e a emancipação feminina, bem como formulou críticas ao clericalismo e ao fascismo. Nesse processo de propor-se a repensar a sociedade na qual estava inserida, a personagem realizou conferências, publicou livros, folhetos e textos em periódicos que se detinham a tais questões. Durante o final da década de 1920 e início de 1930, em um contexto marcado pela quebra da bolsa de Nova Iorque, pelo início de um processo eleitoral presidencial no Brasil e de um crescente totalitarismo em nível mundial, Maria Lacerda de Moura dava continuidade às suas produções intelectuais e passou a deter-se com maior exclusividade à problemática do crescente fascismo em âmbito internacional e nacional. Dessa forma, em 1931 a personagem realizou uma conferência na Coligação Nacional Pró-Estado Leigo, que resultou na publicação de um folheto pela Liga AntiClerical do Rio de Janeiro com o título de Clero e o Estado. Tal folheto constitui-se enquanto fonte primária utilizada nesse trabalho, o qual analiso e relaciono com fontes secundárias. Esse trabalho tem enquanto objetivo analisar as considerações realizadas por Maria Lacerda de Moura que, inserida em tais contextos, procurava denunciar as influências e relações entre a Igreja católica e os Estados fascistas como, por exemplo, a situação da Itália que sob o comando de Benito Mussulini reconheceu a criação do Estado da Cidade do Vaticano e declarou o catolicismo enquanto religião oficial do país. A partir de uma análise do fascismo internacional, a personagem reflete sobre o cenário brasileiro, tecendo críticas à intromissão da Igreja em questões educacionais e também às que perpassam as vidas das mulheres, como o direito ao divórcio. Em âmbito nacional, também é imprescindível se considerar que alguns anos após a publicação do folheto, em 1937, houve ascensão do Estado Novo, que teve grandes influências na vida de Maria Lacerda de Moura. Em tal conjuntura, cada vez mais marcada pelo autoritarismo, a personagem - uma mulher que se inseria em esferas predominantemente masculinas, se posicionava de maneira crítica em relação à sociedade e procurava transformar através da intelectualidade, acaba refugiando-se no Rio de Janeiro para escapar de repressões políticas.
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