LIÇÕES DE ANATOMIA NAS OBRAS DE MICHELANGELO?

Deives Campos, Humberto Mohr, Joel Henrique Ellwanger

Resumo


 

O período renascentista consistiu em uma época de vasta produção científica e cultural, concentrada principalmente nos países do continente europeu. Nesse período foi produzido um grande número de obras de arte e de tratados científicos e médicos, sendo que os estudos sobre a anatomia humana cresceram muito nessa época, já que a dissecação de cadáveres não sofria mais tantas restrições. Não é possível classificar ou separar os representantes do renascimento por ocupações, pois a maioria deles exercia mais de uma atividade de maneira excelente, como no caso do escultor, poeta e pintor Michelangelo Bounarroti, nascido na Itália e que viveu entre os anos de 1475 e 1564. Michelangelo possuía grandes conhecimentos de anatomia, o que se confirma na perfeição com que a figura do homem é representada em suas obras. Esse fato faz com que estudiosos do corpo humano, das mais diferentes áreas, apresentem interesse por suas obras, gerando grandes discussões sobre o que cada uma delas pode representar, seja nos aspectos históricos, religiosos ou científicos. Discuti-se a presença da figura de estruturas anatômicas inseridas nas obras de arte de Michelangelo, levando em consideração os seus significados, importância ou ainda se as mesmas não fazem parte apenas de interpretações imaginativas de alguns estudiosos. Discutir essas associações é o que objetiva o presente trabalho. Para a elaboração deste estudo foram consultados artigos científicos publicados em língua inglesa e acessados ​​a partir de uma pesquisa básica na base de dados PubMed (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), usando termos como "Michelangelo", "anatomy" e "medicine". Grande parte da discussão do trabalho foi baseada no livro “A arte secreta de Michelangelo: uma lição de anatomia na Capela Sistina” publicado no Brasil por Barreto e Oliveira em 2004 e que abordou o tema exaustivamente, bem como no trabalho de Kickhöfel (também publicado em 2004) que criticou o livro, disponível na base de dados SciELO (http://www.scielo.org/php/index.php). Como resultados das análises dos textos, verificou-se que o encéfalo talvez seja o órgão mais citado entre os poucos estudos que realizaram o tipo de associação aqui abordada, porém não só o encéfalo é tema de discussão. Mais especificamente, na obra “A Separação das Águas e da Terra”, o uso da figura do rim pode representar a separação dos líquidos (água) dos sólidos (terra). Igualmente intrigantes são as diversas possíveis presenças de figuras de órgãos e estruturas ósseas nos afrescos que Michelangelo pintou no teto da Capela Sistina, como aqueles possivelmente presentes nas obras “A Sibila Líbica”, “Judite e Holofernes”, “A Separação da Luz e das Trevas”, “Salman, Booz e Obeth” e “A Criação de Eva”. Contudo, as associações apresentadas no presente trabalho promovem discussões em torno de suas legitimidades e importância científica, histórica e artística. Essas associações são verdadeiras para alguns, e fazem-nos tentar elucidar a importância das mesmas nas obras de Michelangelo e as razões que levam o artista a criá-las. Por outro lado, alguns pesquisadores acreditam que as mesmas associações podem ser apenas o resultado da criatividade dos pesquisadores ou até mesmo serem resultantes da falta de conhecimento daqueles que realizam esse tipo de análise. Porém, verdadeiras ou não, essas associações mostram-se curiosas e ressaltam a beleza e genialidade das obras de Michelangelo, fato principal e indiscutível.

 


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