IMAGINAÇÃO POÉTICA E INFÂNCIA: TEMPO DE ADMIRAÇÃO NA CRECHE

Beatran Hinterholz

Resumo


Apresento uma interlocução filosófica entre as fenomenologias de Gaston Bachelard e Hannah Arendt para destacar a íntima relação entre imaginação poética e mundanidade do barro no cotidiano da creche. Com a intenção de aproximar educação infantil e filosofia, proponho um percurso fenomenológico para descrever, refletir e interpretar a complexidade do encontro entre adultos e crianças de um e dois anos em uma creche do sistema municipal de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. O estudo foi desencadeado tanto pela convivência dos adultos com as crianças e os fazeres com o barro na creche, quanto pelo processo de interpretação dos registros fotográficos do vivido. A imaginação na obra bachelardiana rompe com hábitos de pensamento por negá-la como ideia, percepção e representação da realidade. A imaginação poética afirma o corpo no mundo e exige considerar a abordagem de mundanidade em Hannah Arendt, na qual o mundo é o que os humanos têm em comum, o artefato humano. Discutir e refletir o sentido dos fazeres com o barro, a terra, a argila e a água como matérias fundantes da imaginação poética requer também considerar outros modos e tempos de estar no mundo comum. Tempo festivo, de admiração para pensarmos numa presença com a intimidade dos instantes vividos. Instantes no qual o corpo insiste por ser um encontro sensual com a materialidade terrestre. Este encontro emerge como algo que mobiliza o pensar, a admiração de ser. A pesquisa pode contribuir para romper com a lógica escolar apenas sustentada no ensino de um mundo prévio e provoca refletir modos de aprender uma docência que possa prestar mais atenção ao intenso desejo e curiosidade dos bebês e das crianças pequenas em investigar, produzir, criar e transformar diferentes saberes. Já que na alegria de desacelerar o tempo temos a potência de constituir imagens pelo vivido com as materialidades (terra, argila, barro e água), e deste modo invertemos a corrente pedagógica no qual não é possível desenvolver e construir atividades para a criança, mas experiências poéticas que desafiam sentidos e produzam imagens com ela, pois a experiência é simultaneamente dela, com outros, as coisas e o mundo.


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