DE CASINHOLOS, MALOCAS E MARGINAIS. As classes perigosas e suas incômodas moradias
Resumo
Como é construído o imaginário social e cultural em torno do processo de urbanização, sobretudo no que se relaciona às moradias de classes populares? Quais as percepções que estas narrativas tracejam em torno da questão urbana? E, possivelmente a questão mais importante, como este imaginário sobre a moradia popular opera na formatação de políticas públicas relacionadas a este campo? As reflexões que constam neste artigo têm como principal fonte pesquisa realizada no jornal Correio do Povo, entre janeiro de 1955 e dezembro de 1975. E, apesar deste levantamento de dados estar restrito somente ao município de Porto Alegre-RS, é fácil perceber que o processo que ali ocorreu está totalmente associado com o que aconteceu no restante do país. A construção do imaginário em torno das moradias populares opera um processo de estigmatização de seus moradores. E esta estigmatização é produzida em dois aspectos: por um lado, esta parte da população é visível como um problema de ordem social e moral. Por outro lado, é invisível na formulação de políticas para a solução deste problema. Assim, os moradores de “vilas de malocas” são, ao mesmo tempo, visíveis e invisibilizados. Seja como for, a pesquisa evidencia a centralidade da moradia no debate sobre a questão urbana – algo atualmente ainda muito presente. Por fim, ressalte-se que as concepções de exclusão socioterritorial, embora a perspectiva higienista tenha perdido força, não somente se mantiveram nos dias de hoje como se sofisticaram. O pobre é aquele que deve ter sua moradia segregada; e esta “lei não escrita” tem sua origem neste período, nos debates sobre vilas de malocas, favelas, casinholos e marginais. Algo velho, mas sempre renovado.
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