DILEMAS E DESAFIOS EM TORNO DA INCLUSÃO DE PESSOAS NEGRAS A PARTIR DAS COTAS RACIAIS EM CONCURSOS PÚBLICOS

Resumo

O presente artigo tem como objetivo compreender os dilemas e desafios em torno da inclusão (ou não) de pessoas negras na esfera do serviço público, tendo como pano de fundo as implicações da lei nº 12.990/2014, uma política de ação afirmativa que determinou a reserva de vagas a negros/as nos concursos para a admissão de trabalhadores/as na administração pública. Em suma, considera-se que a inclusão representa o conjunto de estratégias que resultam no respeito e na valorização das diferenças, nos mais diversos prismas da vida laboral e social. Como caminho para a obtenção dos dados para a pesquisa, partiu-se do envolvimento e das próprias experiências de vida dos/as autores/as do artigo em relação à temática de pesquisa, a partir da perspectiva epistemológica da Teoria Racial Crítica, de Gloria Ladson-Billings (2006). Assim sendo, as reflexões deste artigo apontam que, apesar de as cotas raciais terem feito com que mais negros/as acessem o espaço do serviço público, ainda assim não se verifica, na prática, a plena inclusão dos/as trabalhadores/as negros/as cotistas, principalmente porque tais sujeitos: (a) normalmente são vistos nos cargos menos prestigiados e mais extenuantes; (b) sofrem com o excesso de cobrança no desempenho de suas funções; (c) não são reconhecidos como servidores/as dignos de mérito e respeito por ocuparem uma função pública e; (d) são impelidos a negarem elementos de sua negritude como “tática” para que sejam mais aceitos e respeitados no ambiente laboral – aspecto este que é especialmente sensível para as servidoras públicas negras.