Narrativas de Egressos da Prisão e Discursos Midiáticos Sobre Criminalidade

Autores

  • Luciane Engel Universidade Federal do Rio Grande do Sul Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE) Associação dos Técnicos Superiores Penitenciários do RS (APROPENS) http://orcid.org/0000-0002-3711-0217
  • Inês Hennigen Docente convidada do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); coordenadora do Grupo de Pesquisa LECOPSU: Leituras do Contemporâneo & Processos de Subjetivação Endereço: Instituto de Psicologia UFRGS, R. Ramiro Barcelos, 2600 - Santa Cecilia, Porto Alegre - RS, CEP:90035-003. http://orcid.org/0000-0002-0973-5973

DOI:

https://doi.org/10.17058/psiunisc.v2i2.11799

Palavras-chave:

Criminalidade, Mídia, Produção de Subjetividade, Práticas de Liberdade

Resumo

Este artigo discute a produção de subjetividade de pessoas que passaram por experiência de prisão, considerando os discursos midiáticos sobre a criminalidade. A pesquisa se justifica pela necessidade de pensar o trabalho da Psicologia junto à população encarcerada, colocando questões para os desafios que a complexidade do aprisionamento apresenta. A metodologia aplicada foi a roda de conversa realizada com um grupo voluntário de homens egressos do sistema prisional, na qual foram disparadores os conteúdos midiáticos escolhidos pelos participantes. Dentre os objetivos, buscou-se entender os efeitos subjetivos destes discursos nas pessoas que vivem esta realidade com seus desdobramentos penais e sociais, conhecer a maneira como resistem ou reproduzem valores e significados e, também, propiciar espaço de narrativas e de interação entre os participantes, valorizando o compartilhamento de opiniões e ideias. Analisamos os aspectos discutidos nas rodas de conversa que ora se relacionam com a reprodução da exclusão social, ora com crítica e resistência à identidade criminosa. Estas questões foram desenvolvidas em tópicos sobre a criminalização da pobreza e o resgate da cidadania que compreendem o conjunto dos temas debatidos e associados aos conteúdos midiáticos. Entendemos que a relação saber-poder que circula nos discursos, funcionando como um processo permanente de modelização da vida, é significativa na produção de subjetividade. E por fim, em contraponto a isso, concluímos sinalizando para práticas de liberdade exercitadas em espaços de reflexão e de narração de si, como modo de ruptura de identidades marginalizadas, resistência aos processos de exclusão social e possibilidade de criar diferentes caminhos.

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Biografia do Autor

Luciane Engel, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE) Associação dos Técnicos Superiores Penitenciários do RS (APROPENS)

Filiação Institucional: Técnica Superiora Penitenciária Psicóloga da Superintendência dos Serviços Penitenciários e Presidente da Associação dos Técnicos Superiores Penitenciários do RS.

A autora é psicóloga graduada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (2001), especialista em Gestão Penitenciária pela faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(2005), Licenciada em Psicologia pela UFRGS (2017)e especialista em Psicologia Jurídica pelo CFP (2018). O artigo é resultado da dissertação de Mestrado no PPG em Psicologia Social e Institucional da UFRGS (2016). A autora é servidora no sistema penitenciário do Rio Grande do Sul desde 2002 como Técnica Superiora Penitenciária Psicóloga, com função de acompanhamento e atenção à saúde da população privada de liberdade. Foi conselheira do Conselho Regional de Psicologia do RS na gestão 2013-2016. Atualmente, é presidente da Associação dos Técnicos Superiores Penitenciários do RS (APROPENS), na gestão 2016-2019.

Inês Hennigen, Docente convidada do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); coordenadora do Grupo de Pesquisa LECOPSU: Leituras do Contemporâneo & Processos de Subjetivação Endereço: Instituto de Psicologia UFRGS, R. Ramiro Barcelos, 2600 - Santa Cecilia, Porto Alegre - RS, CEP:90035-003.

A autora possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1985), mestrado em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1994) e doutorado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2004). É professora convidada do PPG em Psicologia Social e Institucional da UFRGS. Atualmente, tem se dedicado ao estudo, pesquisa e intervenção no que concerne às seguintes questões: modos de subjetivação, mídia e tecnologias, relações de gênero, educação, relações de consumo, cidadania e (super)endividamento.

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Publicado

2018-07-20

Como Citar

Engel, L., & Hennigen, I. (2018). Narrativas de Egressos da Prisão e Discursos Midiáticos Sobre Criminalidade. PSI UNISC, 2(2), 109-132. https://doi.org/10.17058/psiunisc.v2i2.11799

Edição

Seção

Artigos