HUMANIDADES NA FORMAÇÃO MÉDICA: REALIDADE OU FARSA?

Autores

  • Clara Costa Oliveira

DOI:

https://doi.org/10.17058/rea.v17i2.1147

Resumo

Começa-se por situar brevemente a tradição da formação médica no ocidente, assinalando a dicotomia existente entre a formação académica e a prática clínica, sobretudo na cirurgia. Assinalamos a mudança que se verificou nessa formação a partir dos anos 70 do século XX com a implementação do paradigma da biologia molecular na Medicina. A formação passou a centrar-se nos componentes e estruturas intra-celulares, afastando-se de uma visão integradora de todas as dimensões do ser humano. Hoje assiste-se a um declínio de formação de competências de prática clínica, se compararmos com a formação médica ocidental até meados do século XX. A formação médica aposta forte na pesquisa científica, o que é certamente louvável, mas que tem vindo a trazer problemas sobretudo à relação médico-doente, e que se vêm agravando face ao enorme aumento de doentes crónicos que exige um contacto ao longo da vida entre profissionais de saúde e pacientes. Como reação a este estado de coisas, muitas universidades, em todo o mundo, introduziram na formação médica a área de Humanidades, expressão ampla que pode incluir desde a Ética e Deontologia médicas até matérias de literatura ou artes plásticas, por exemplo. O artigo caracteriza brevemente os três tipos mais usuais de inserção das Humanidades em Medicina. Elas são enunciadas como: 1- existência uma matéria residual ligada às Humanidades em todo o curso de Medicina; 2- as Humanidades na Medicina; 3- humanidades na Medicina. Após a caracterização de cada uma delas, interroga-se qual aquela que realmente pode promover uma diferença substantiva na formação médica e quais aquelas que são uma farsa em relação a esse objetivo. Por fim, salienta-se que, mesmo as universidades que utilizam modelos integradores das Humanidades em medicina, estão constantemente pressionadas a diminuir a importância dessa área formativa face ao desenvolvimento da pesquisa científica acerca da qual é necessário dar conta aos alunos nas áreas bioquímicas, por exemplo. Assinala-se como elemento mais frágil da permanência da formação humanista em Medicina a avaliação dos estudantes, que deverá manifestar continuidade com a avaliação das outras áreas.

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Publicado

2009-12-15

Como Citar

Oliveira, C. C. (2009). HUMANIDADES NA FORMAÇÃO MÉDICA: REALIDADE OU FARSA?. Reflexão E Ação, 17(2), 225-242. https://doi.org/10.17058/rea.v17i2.1147