NARRATIVAS DE ADOLESCENTES SOBRE DROGAS: FAMÍLIA, ESCOLA E O PARADIGMA DA ABSTINÊNCIA

Marcia de Bastos Braatz, Daiane Carine Klein, Edna Linhares Garcia, Evelin Helena Torrel, Rayssa Madalena feldmann

Resumo


Este artigo integra os estudos da pesquisa intitulada Narrativas de adolescentes sobre drogas e os serviços de saúde mental CAPSIA e CAPSAD: intersecções possíveis no contexto de Santa Cruz do Sul. Apresenta reflexões decorrentes da análise de narrativas de adolescentes escolares sobre drogas, evidenciando a complexidade que envolve temas como família, escola e a abstinência. A partir dos desdobramentos desta pesquisa buscamos compreender como a droga perpassa o cotidiano dos sujeitos aqui mencionados. Percebemos o contexto escolar como local privilegiado de interlocução com esses jovens, bem como um espaço de promoção e prevenção de saúde.

Seguindo a proposta metodológica, a análise dos dados produzidos nos encontros de grupos focais com adolescentes escolares, possibilitou reflexões acerca das temáticas que mais se sobressaíam no discurso dos mesmos. Estas foram nomeadas de categorias e assumiram papel norteador no processo de compreensão destas realidades. A partir disso, foi possível refletir acerca das relações familiares e sobre questões de gênero, que sustentam processos de constituintes destes sujeitos. Percebemos ainda que os adolescentes trazem em seu discurso a forte presença da mãe, principalmente como fator de proteção ao uso de drogas, fazendo referência aos conselhos e investimentos das mães e, por diversas vezes expressando o desejo de retribuição, numa esperança de um dia poder ajudá-las financeiramente.

Em relação a escola e ao trabalho, os adolescentes expressam a compreensão sobre a importância de manterem-se estudando, e ainda colocam a vontade de trabalhar.  O trabalho, por sua vez, assume não apenas uma forma de sustento, mas também uma forma de custeio dos planos futuros, incluindo os estudos universitários. Porém, quanto as funções exercidas atualmente, constatamos uma dificuldade ou resistência para falar sobre, donde procede a suposição de inexistência de identificações com o atual trabalho.

Sobre a prática de abstinência e redução de danos, percebemos que os adolescentes não construíram um discurso em relação a redução de danos, apenas elencam a abstinência como forma de tratamento/recuperação efetiva. O que evidencia a ausência de conhecimento sobre a abordagem da redução de danos. Revelou-se ainda durante as narrativas, que em nenhum momento os adolescentes fizeram referência aos serviços destinados a atenção psicossocial, tais como o CAPSia ou CAPSad, o que revela um déficit em relação a ações possíveis, tanto de prevenção a adição, quanto a promoção de saúde.

Os adolescentes trouxeram em seus relatos questões pertinentes ao meio em que se encontram inseridos, sua realidade social e os atravessamentos culturais; revelando a influência que os espaços sociais e comunitários exercem sobre o uso ou não de drogas. Conforme já anunciado neste trabalho, o uso de drogas psicoativas já assumiu uma face de problema de saúde pública e, a partir das narrativas dos adolescentes percebemos a carência de espaços que acolham e saibam intervir frente a real demanda instaurada no município.

A guisa de conclusão ressalta, entre outras considerações, a fundamental necessidade de se realizar pesquisas e estudos sobre a temática de drogas junto aos adolescentes, acolhendo, por meio de uma escuta especializada, o direito de fala sobre seus modos de vida, sob o risco de se elaborar ações de prevenção ao uso de drogas e de promoção de saúde que continuem sem alcança-los.

 


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