TRABALHO NA SAFRA, UMA ATIVIDADE FEMININA? MODOS DE SUBJETIVAÇÃO E RELAÇÕES DE GÊNERO NA INDÚSTRIA FUMAGEIRA
Resumo
As transformações no mundo do trabalho, contribuíram para um contexto em que as condições de trabalho tornam-se cada vez mais flexíveis. Houve um aumento na precarização das relações de trabalho, que são manifestadas, principalmente, na instabilidade dos empregos, na informalidade, nos trabalhos subcontratados, temporários e parciais. Essas mudanças tiveram forte impacto na classe trabalhadora, afetando na inserção e nas condições de trabalho, principalmente para o público feminino, visto que, historicamente, as mulheres têm sido desvalorizadas em detrimento da força de trabalho masculina. Diante disso, esta pesquisa teve como objetivo compreender os processos de subjetivação e as relações de gênero no trabalho de safra das indústrias do fumo de Santa Cruz do Sul. Desse modo, buscou-se identificar quais os efeitos que este trabalho sazonal produz na vida das trabalhadoras safristas, o qual é marcado por condições precárias, interrupção previsível e repetição ao longo dos anos. Esse estudo ancorou-se nos pressupostos teóricos e práticos da Psicodinâmica do Trabalho, que tem também como objetivo compreender a relação entre prazer-sofrimento no trabalho. Assim, foram realizados três encontros de grupos com quatro trabalhadoras safristas no Sindicato dos Trabalhadores do Fumo e da Alimentação (STIFA) e quatro entrevistas individuais. Ao total oito trabalhadoras participaram desta pesquisa. Na análise do material da pesquisa foi considerado o coletivo nas falas das participantes, ou seja, os aspectos em comuns e relevantes da realidade do trabalho de safra. Evidenciou-se que as participantes se subjetivam nesse trabalho temporário, configurando-se como um modo de trabalhar em que há uma interrupção e, ao mesmo tempo, continuidade ao longo dos anos. O trabalho de safra também se mostrou como única oportunidade trabalho para as participantes, levando ao retorno para o mesmo. Foi constatado que o trabalho na safra se constitui como um trabalho essencialmente feminino, dado o elevado número de trabalhadoras mulheres nesse ramo produtivo. Contudo, através das falas das participantes constatou-se que, além dos percalços encontrados neste contexto, há prazer neste trabalho, constituindo-se como um espaço de socialização, para além do âmbito doméstico.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFApontamentos
- Não há apontamentos.