CUIDAR: UM VERBO FEMININO? ATRAVESSAMENTOS DE GÊNERO NO CUIDADO E ACOLHIMENTO EM SAÚDE
Resumo
A partir de uma experiência de um estágio extracurricular como visitadora no Programa Primeira Infância Melhor, pôde-se acompanhar o desenvolvimento integral das crianças e suas histórias de vida, ouvir relatos de mulheres-mães e do cuidado que dispõem aos seus filhos. Foi-se percebendo que cuidadoras de um mesmo território buscam, para a atenção em saúde de seus filhos, serviços diferentes, por vezes justificando isto pelo modo como são acolhidas. Por outro lado, os serviços também dizem algo dessas mulheres-mães, de como elas cuidam seus filhos e de como o cuidado é prescrito, supondo ser este o modo adequado. Partindo desses relatos e vivências, foi-se perguntando sobre como se dá esse acolhimento, como ele é construído e pensado em cada serviço. Apesar de ser a mesma política que rege e regulamenta esse cuidado em saúde, ele se singulariza em cada profissional que irá executá-lo, na relação entre quem acolhe e quem é acolhido. Desta experiência e destes questionamentos, construiu-se o Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia, intitulado “Problematizações sobre o acolhimento em saúde na primeira infância”. Por meio deste buscou-se compreender como os cuidadores/responsáveis pelas crianças percebem o acolhimento na rede de atenção em saúde à primeira infância em um município do Vale do Rio Pardo-RS. Desta forma, realizou-se uma revisão bibliográfica com base em documentos já elaborados sobre o acolhimento em saúde neste período de vida. Ainda objetivou-se investigar quais elementos influenciam na construção do vínculo entre os cuidadores/responsáveis e os trabalhadores dos serviços de saúde bem como problematizar as práticas de acolhimento que ocorrem nos encontros destes atores. O levantamento destas informações foi realizado por meio de entrevista semiestruturada. Faz-se importante salientar inicialmente que buscou-se pesquisar cuidadores/responsáveis e encontrou-se mulheres-mães. As oito entrevistadas eram mães que são responsáveis quase que exclusivamente pelos cuidados diários de seus filhos. Elas são denominadas no trabalho como mulheres-mães na tentativa de marcar que elas não são somente coadjuvantes nesse processo e que, antes de serem mães são mulheres. Desta forma, a escrita deste trabalho objetiva, a partir da experiência no campo e das entrevistas, pensar o lugar circunscrito à mulher, do atravessamento de gênero no cuidado em saúde, através de problematizações sobre as formas acolhimento. Portanto procura-se enfatizar o lugar da mulher não somente ligado a maternagem e reprodução. Aqui objetivou-se problematizar, pensar, refletir sobre as práticas de cuidado em saúde e o cuidado em saúde no encontro entre mulheres. Aponta-se a necessidade de se pensar a humanização, o acolhimento como reorganização das nossas práticas cotidianas em todos os encontros da vida. Deste modo, faz-se necessária também a construção de relações e encontros dialógicos (a)efetivos, com respeito mútuo nos processos de produção da saúde, para que assim, consigamos acolher uns aos outros. Observa-se então, a partir deste trabalho, que o encontro que é o acontecimento do cuidado em saúde é, em grande número, um cuidado entre mulheres, considerando necessário que a luta feminista pela igualdade de direitos e melhorias sociais continue sendo feita fortemente, desta forma, avançando também, em melhorias na saúde (de todos!).
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