A(S) PRÁTICA(S) PSI NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: (RE)PENSANDO QUESTÕES DE GÊNERO NOS GRUPOS PAIF

Maria Luiza Adoryan Machado, Silvia Virginia Coutinho Areosa

Resumo


Este ensaio, de cunho qualitativo, emerge como resultado teórico-prático de atividades realizadas durante o estágio integrado de Psicologia da UNISC, em um serviço público de assistência social, localizado em uma cidade no interior do RS. Partindo de uma proposta mais específica de um trabalho teórico-analítico sobre questões de gênero, esta atividade foi pensada e articulada em encontros mensais de um grupo referenciado a um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Desta forma, o objetivo central está em relacionar as práticas da Psicologia nesse serviço público com as demandas que emergem no território, que são sinalizadas pelos próprios usuários enquanto necessidades importantes que podem ser trabalhadas de forma colaborativa entre o CRAS e a comunidade referenciada. A metodologia adotada foi o Grupo Focal (GF) e uso de diário de campo enquanto potente ferramenta de registro e análise. Assim sendo, uma das estratégias da atuação Psi em relação a tais demandas está em trabalhar coletivamente em um espaço de trocas com a comunidade, construído e promovido através do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). Para tanto, realizou-se um encontro com um grupo focal tendo como temática ?o papel do homem na família?. Tal tema foi apontado pelos próprios sujeitos participantes enquanto demanda do grupo. A partir das respostas obtidas em campo, identificou-se que, muitas vezes, o homem é socialmente relacionado à figura de provedor/trabalhador e dedica-se pouco às questões familiares/domésticas: ?Tem coisa que a gente sabe que é difícil de homem fazer, porque nunca aprendeu como é que faz [...] e nem sempre a gente deixa fazer, né [...] se eu tô fora de casa e, por exemplo, tem roupa pra estender ou uma louça pra lavar, eu sei que ele [esposo] vai fazer direitinho, só que eu tenho que pedir, se não ele não faz? (sic). Neste sentido, as responsabilidades familiares/domésticas são atribuídas à mulher, quando ela não possui vínculo empregatício. As questões de gênero foram colocadas em xeque pelo grupo, a partir de uma reflexão coletiva às atribuições relacionadas ao homem e à mulher, entendidas como questões de gênero: ?Hoje em dia não é só o homem quem trabalha, tem muita mulher trabalhando e homem cuidando da casa? (sic). As/os próprias/os participantes do grupo demonstraram interesse na temática e sugeriram que, em um próximo encontro, a mesma atividade poderia ser realizada para se pensar de forma mais aprofundada sobre o papel da mulher na família e, até mesmo, em relação à questão geracional que atravessa as relações sociais/familiares, bem como, das configurações familiares; no caso de família monoparental, por exemplo. De toda forma, viu-se que as questões de gênero podem ser trabalhadas enquanto dispositivo de análise pela Psicologia, pois tratam-se de modos e sentidos (re)produzidos pela e na família que devem ser consideradas nas estratégias de atuação do CRAS. Por fim, considera-se que a atuação da Psicologia possui grande importância no desenvolvimento de ações que contribuam para uma reflexão e debate coletivo acerca de demandas e das subjetividades que emergem de diversos contextos sociais, tendo em vista a promoção de direitos e o fortalecimento de vínculos familiares e sociais.


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ISSN 2764-2135