MEDICALIZAÇÃO, SAÚDE E ADOECIMENTO DOCENTE

Maiara da Silva Führ, Luiza Tamara de Almeida Leal, Stefanie Schimidt, Jerto Cardoso da Silva

Resumo


Saúde e educação são áreas entrelaçadas e que produzem práticas e discursos que formam nossos modos de existir. Há um reconhecimento de que os professores são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, por outro lado, nota-se uma precariedade nas condições de trabalho vivenciadas por estes profissionais. Isso faz parte de um processo histórico, que se reflete na qualidade do ensino e na saúde dos mesmos de forma cada vez mais evidente, determinado pela inadequação das condições em que são realizadas as atividades desses profissionais, que, no seu dia a dia, suportam altas exigências na atividade docente, o que retrata as condições de vida na atualidade, seus ritmos e tempos, em especial, no mundo do trabalho em educação, a falta de autonomia, a baixa remuneração, a exigência emocional, o excesso de esforço físico e mental. Todas essas demandas se interligam em um mundo que se globaliza, tenciona-se e exige flexibilidade constante, além de ter que dar conta de novas tecnologias na sua práxis. Desse modo, o presente estudo busca refletir sobre as configurações do trabalho docente e suas condições de produção, através da relação entre o adoecimento mental e as condições de trabalho dos professores. Tais questões são norteadoras do nosso trabalho com o objetivo de entender o processo de saúde/doença do educador, sendo esse um desafio na atualidade. Para a realização desse estudo, foram aplicados questionários semiestruturados em 201 professores de escolas públicas, de cinco municípios do interior do estado do Rio Grande do Sul. Após a aplicação dos questionários, os dados foram transferidos para o software Statistical Package for the Social Sciences ? SPSS 18.0, que possibilitou o entendimento da percepção dos professores em relação às condições de trabalho e do seu bem-estar. Os dados coletados apresentam que, 71,5% apontam estresse no ambiente de trabalho, 72,7% sentem pouca valorização, 65,9% sobrecarga de trabalho, 66,7% de frustração na profissão e 48,6% demonstra insatisfação com o trabalho. Também observamos um índice, que consideramos significativo, de professores que fazem uso de medicação, 33,7%. Paradoxalmente, 57% da amostra percebe-se motivada, 42,2% satisfeita, e 57% orgulhosa da sua profissão. Frente a esses dados, pode-se perceber que a docência se define como uma atividade relacional, em que os professores, além do ofício de lecionar e transmitir o conhecimento aos seus alunos, também se envolvem emocionalmente e cognitivamente, indicam comprometimento com o trabalho, valorizam a profissão, mas se queixam de que socialmente não são valorizados, os baixos salários (atrasos ou parcelados), desprestígio social, falta de reconhecimento do trabalho, indisciplina de alunos, cobrança de pais, da escola, violência, falta de segurança. E, além disso, a profissão docente consome grande parte do tempo dos professores e, muitas vezes, o ritmo da sua atividade é intenso, exigindo altos níveis de concentração e atenção para a execução das metas pedagógicas. Por tal motivo, geralmente, os docentes apresentam sintomas como ansiedade, angústia, cansaço e irritabilidade excessivos e, paradoxalmente, estão muito medicados.

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ISSN 2764-2135