ANÁLISE SOBRE A CONSTRUÇÃO DOS DISCURSOS JORNALÍSTICOS RELACIONADOS À VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES, EM UMA REGIÃO NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL

Luana Molz Rodrigues, Letícia Karoline Bock Wilges, Maiara da Silva Fuhr, Betina Hillesheim

Resumo


A violência de gênero se apresenta como um problema social e de saúde pública que perpassa sociedades, culturas, gerações e classes sociais, e que com o boom das mídias está se tornando cada vez mais visível. Em vista disso, nosso estudo tem como objeto as narrativas construídas em duas reportagens de um jornal de circulação no interior do Rio Grande do Sul, referente à violência de gênero contra mulher, no ano de 2020. Através de um estudo teórico metodológico de tais reportagens, uma de um ato de feminicídio consumado e a outra de uma tentativa, contextualizamos e problematizamos a forma que a violência de gênero se manifesta, é entendida e falada naquela sociedade e os processos de subjetivação que estão sendo produzidos na atualidade. Como corpus analítico a pesquisa se constituiu a partir dos Estudos Culturais e através desse campo lançamos mão da seguinte pergunta: ?Quais as verdades sobre violência sofrida pela mulher são (re)produzidas pelos discursos da mídia?? Analisamos as reportagens através de dois marcadores, sendo eles: formas de nomear o fato e formas de descrever as mulheres e os homens. Em cada marcador, elencamos as palavras que mais estiveram presentes no decorrer do texto jornalístico. Assim, os termos mais preeminentes na forma de nomear os fatos foram: feminicídio, crime brutal, crime passional, e caso inusitado. Aqui percebemos o uso constante da palavra feminicídio. Porém, podemos observar, que mesmo assim existe uma falta de esclarecimento em relação ao conceito. A respeito do termo crime brutal, constatamos que a imprensa relacionou o termo ?brutal? como uma forma de violência excessiva que sucumbiu uma vida valorosa, que não podia ser perdida. Quanto ao crime passional verificou-se a romantização da escrita jornalística, desfocando a gravidade do feminicídio. Já o termo ?caso inusitado? foi associado com a culpabilização da mulher pelo o que aconteceu com ela, sendo deixando de lado a violência do ato e a comoção a violência contra as mulheres e a brutalidade dos feminicídios. Sobre a forma de descrever as mulheres afluíram os adjetivos: assistente social, mãe, pessoa querida e vítima. Verificamos aqui estereotipação das mulheres e a secundarização em suas próprias histórias, por vezes revitimizando-as. Referente a forma de nomear os homens, os adjetivos mais usados nas escritas foram: ?suspeito?, ?ex-namorado/marido/companheiro? e ?réu?, reafirmando o fato de que os autores da violência contra mulher, na maioria esmagadora das vezes, são parceiros ou ex-parceiros das vítimas, motivados por ciúmes excessivos e necessidade de dominação. Com o presente estudo concluímos que as reportagens buscaram sensibilizar os leitores e justificar os crimes. As mulheres foram revitimizadas, houve a reafirmação dos estereótipos atribuídos a elas e transferência da culpa do crime à vítima. Em vista disso, percebemos que existem muitas dificuldades e desafios na cobertura jornalística sobre o feminicídio. As informações sobre o sistema de proteção às vítimas foram escassas nas reportagens. Sugerimos que haja uma educação permanente da população sobre o tema e não só reportagens quando um crime acontece. A partir dessa pesquisa, pretendemos despertar interesses para que futuras pesquisas sejam elaboradas na área da Psicologia, visto que essa temática é mais aprofundada no âmbito jurídico, para que ocorra uma reflexão e seja criado mecanismos de prevenção a essas mortes  evitáveis.



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ISSN 2764-2135