AUTOMEDICAÇÃO: UM CONFLITO ENTRE A AUTONOMIA DO PACIENTE E O SABER BIOMÉDICO
Resumo
INTRODUÇÃO: A automedicação não é uma prática restrita à contemporaneidade: é uma conduta consolidada historicamente como parte do itinerário terapêutico empregado pelos indivíduos na gestão dos problemas de saúde. Os pacientes que se submetem a essa ação podem executá-la em diversos graus, os quais variam de um elemento de autocuidado a uma violação do seu estado de saúde. Nesse sentido, define-se automedicação pelo uso de drogas que não requerem prescrição, sejam estas vendidas somente em farmácias, sejam comercializadas em outros estabelecimentos. No contexto brasileiro, a automedicação ganha relevância pela frequência com a qual é utilizada e por evidenciar uma significativa lacuna nas demandas por atenção à saúde da população, que não são plenamente atendidas. Durante a pandemia do Sars-CoV-2, no Brasil, a discussão acerca do tema foi potencializada pelo colapso do sistema de saúde aliado ao negacionismo e à desinformação, fortalecendo uma forma negativa de se pensar automedicação. Para o debate trazido neste resumo, faz-se fundamental o entendimento dessa visão enraizada na comunidade científica, evidenciando o conflito entre a autonomia do paciente e o poder hegemônico do conhecimento biomédico. OBJETIVO: Identificar o conflito entre a autonomia do paciente e a hegemonia do saber biomédico em relação ao uso de fármacos. METODOLOGIA: Foi realizada uma pesquisa de caráter qualitativo, com base em revisão bibliográfica, considerando artigos encontrados na plataforma Google Acadêmico, inicialmente, pelo termo “automedicação”, sem delimitação temporal. Posteriormente, restringiu-se a busca por artigos publicados desde 2017, a partir dos seguintes termos: “automedicação”, “automedicação responsável” e “automedicação na pandemia”. Por fim, das publicações encontradas, foram selecionadas dez. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A maioria dos trabalhos identificados consiste em estudos transversais, relatos de caso e análises com recortes populacionais específicos (faixa etária, ocupação, etc.). Chama atenção a quantidade de vocábulos de cunho negativo presentes nos títulos dos artigos relacionados à automedicação, como “malefícios” e “riscos”. Além disso, destaca-se a notável diminuição na quantidade de publicações a respeito do tema nos últimos anos, bem como a escassez de materiais que discorrem sobre o conflito entre a autonomia do paciente e o saber biomédico e o exponencial crescimento de produções que relacionam a automedicação à pandemia da Covid-19. A ínfima quantia de trabalhos abordando a automedicação por um viés positivo e de autonomia do paciente reflete a impopularidade do assunto no meio acadêmico, o que pode estar ligado ao fato de que esta visão parece contestar o papel e o poder do médico na prescrição de medicamentos. CONCLUSÃO: Percebe-se que a presença de um debate mais profundo relacionado à automedicação se resume, majoritariamente, aos seus malefícios à saúde humana. Esta discussão, portanto, reúne materiais sobre o conflito em destaque, a fim de torná-la mais presente na área biomédica, pois, mesmo indo de encontro à maioria dos trabalhos científicos, a persistência da automedicação entre os brasileiros é uma realidade que merece análise.
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ISSN 2764-2135