DO RURAL AO CAMPO: DIFERENTES CONCEPÇÕES EDUCACIONAIS NO VALE DO RIO PARDO

Cheron Zanini Moretti, Everton Luiz Simon, Eduarda Baumann, Luiza Schroeder da Silva, Águeta Pozzebon

Resumo


O presente estudo é resultado parcial do projeto de pesquisa Educação, Trabalho e Emancipação: experiências pedagógicas das Escolas Famílias Agrícolas do Vale do Rio Pardo e tem como finalidade, compreender as diferentes concepções educacionais presentes na região através da experiência dos/das jovens/estudantes da Escola Família Agrícola de Vale do Sol (EFASOL) e da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (EFASC), que são egressos/as de escolas rurais e de pedagogias tradicionais. A metodologia deste trabalho se deu por meio de entrevistas realizadas por meio de cartas pedagógicas de inspiração freiriana, contendo 7 questões problematizadoras, dirigidas a 03 estudantes da EFASC e 03 da EFASOL. Por meio desses registros foi possível dialogar com estudantes do primeiro, segundo e terceiro ano do Ensino Médio sobre as suas experiências escolares. Com base nos dados, observou-se que a principal diferença entre as escolas rurais e as escolas do campo, está na metodologia de ensino. A primeira apoiada na pedagogia bancária/tradicional, a outra na pedagogia da alternância (PA). Os/As entrevistados/as enfatizam a importância da PA, pois permite que alternem seu tempo de aprendizado na propriedade rural e na escola, refletindo sobre os saberes advindos das práticas realizadas na sua Unidade de Produção Familiar (UPF) e as explicações teóricas apreendidas na escola, experiência que não foi oportunizada pela escola rural e/ou tradicional. Outro destaque, refere-se aos Instrumentos Pedagógicos (IP) que têm poder educativo importante, pois envolvem diretamente o/a estudante, a família e o/a educador/a. Além disso, modificam a condução das aulas e a sua relação com o currículo, pois os/as educadores/as relacionam os saberes científicos aos saberes da experiência prática dos/das estudantes e da família. Assim, o trabalho cotidiano e seus saberes têm a oportunidade de contribuir para a construção de novos conhecimentos, o que valoriza aqueles previamente construídos na UPF, na comunidade e no município. Assim, a escola do campo vincula à realidade dos/das educandos/as ao currículo escolar concretamente, diferentemente do que ocorre na escola rural e/ou tradicional. Outra diferença significativa se dá na organização do ambiente escolar, pois nas EFA’s, os/as estudantes ajudam na limpeza e arrumação dos espaços, gerando um sentimento de pertencimento a um segundo lar, já que essa organização é conduzida coletivamente, onde todos/as têm responsabilidades. Desse modo, são fortalecidos diferentes vínculos: com a terra e com a escola, distinguindo-se das outras escolas da região que possuem uma concepção tradicional de ensino-aprendizagem ao reproduzir as relações de poder e de não pertencimento ao território. Além disso, na PA, as famílias são importantes em razão de acompanharem seus/suas filhos/as durante toda a formação, participando de maneira ativa do processo educativo através de assembleias e de IP’s, diferentemente das escolas rurais e/ou tradicionais em que, eventualmente, as famílias participam para tomar decisões pedagógicas. Neste sentido, a experiência dos/as jovens estudantes caracterizam as diferentes concepções de escolas e de pedagogias existentes na região em relação ao tempo e espaço; às práticas pedagógicas; sujeitos envolvidos/as; valorização de saberes pela participação, autonomia, convivência e responsabilidades para e com o trabalho.

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ISSN 2764-2135