SOBERANIA ALIMENTAR E AUTONOMIA EDUCACIONAL: CONTRIBUIÇÕES DAS ESCOLAS FAMÍLIAS AGRÍCOLAS DO VALE DO RIO PARDO

Cheron Zanini Moretti, Everton Luiz Simon, Eduarda Baumann, Águeta Pozzebon, Luiza Schroeder da Silva

Resumo


O presente estudo é resultado parcial do projeto de pesquisa Educação, Trabalho e Emancipação: experiências pedagógicas das Escolas Famílias Agrícolas (EFA’s) do Vale do Rio Pardo (VRP), e busca compreender a soberania alimentar e a autonomia educacional, a partir da Pedagogia de Alternância nas EFA’s do VRP. As EFA’s trabalham com a PA, possibilitando que os/as jovens intercalem seu tempo de aprendizado entre o ambiente escolar e sua propriedade, ou seja, relacionando teoria e prática através das trocas de conhecimentos com os/as colegas e os/as educadores/as, levando em consideração os saberes da família pelo trabalho. Na região, situam-se a EFASC - inaugurada em 2009, no município de Santa Cruz do Sul, contando com 104 estudantes em formação no ano de 2021 - e a EFASOL - localizada no Vale do Sol, sendo fundada em 2014, tendo 115 estudantes em 2021. Para coleta de informações, utilizamos como metodologia a elaboração de uma carta-convite, de inspiração freireana, contendo 6 perguntas relacionadas à agroecologia, produção de alimentos e a experiência pedagógica das EFA’s. Os sujeitos participantes da pesquisa foram uma egressa da EFASC e um egresso da EFASOL, retornando os questionamentos realizados na carta via WhatsApp. A agroecologia é a base das EFA’s, sistema que trabalha com práticas agrícolas alternativas e que busca manter o equilíbrio com o meio ambiente, sem utilizar agrotóxicos, garantindo alimentos sadios e com qualidade superior. Com base nos relatos dos participantes da pesquisa, identificou-se que as EFA’s incentivaram a modificar e diversificar as produções nas suas propriedades, utilizando os recursos já disponíveis, como dejetos dos animais, as árvores como quebra-ventos, compostagem para adubação das hortaliças, preparo de adubações foliares, entre outras técnicas advindas de conhecimentos populares dos familiares e comunidade, transformando os saberes existentes em novo para a melhoria da realidade da Unidade Produtiva Familiar. As EFAs estimulam a produção de alimentos para o autoconsumo, garantindo a soberania alimentar e compreendendo a procedência e qualidade do alimento. Além disso, proporcionam a comercialização de hortaliças e dos processados (pão, cuca, conservas), através da feira pedagógica – um dos seus instrumentos pedagógicos. A Pedagogia de Alternância permite que os/as jovens possam, durante duas semanas por mês, estarem cuidando da sua área experimental, provendo, assim, as produções para família e comercialização, no qual expande-se para comunidade e município. Em vista disso, os/as jovens aprendem a ter responsabilidade para trazer os seus alimentos para a feira pedagógica e autonomia para administrar as sobras financeiras/lucros. Dessa forma, as EFA’s contribuem para a soberania alimentar durante e após a formação do/a estudante, demonstrando diversas oportunidades e possibilidades através da autonomia educacional. Além disso, incentiva a continuação e a expansão do sistema de produção agroecológico, apoiando a agricultura familiar e valorizando os saberes populares, favorecendo a soberania alimentar e sua importância no sustento das famílias, potencializadas pelos instrumentos criados na alternância entre tempos e espaços pedagógicos.

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ISSN 2764-2135