ALIMENTAÇÃO, TRABALHO E EDUCAÇÃO: PROCESSOS EDUCATIVOS EM ESPAÇOS DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE

Cheron Zanini Moretti, Everton Luiz Simon, Hosana Hoelz Ploia, Eduarda Baumann

Resumo


A população carcerária na região, de acordo com dados da SUSEPE, em junho de 2022, apontam para 625 homens e mulheres em privação de liberdade, nos municípios de Rio Pardo, Sobradinho, Santa Cruz do Sul, Encruzilhada do Sul e Candelária. Na Lei de Execução Penal, N°7.210, de 1984, o direito à alimentação é contemplado nos Artigos 12, 37 e 41, garantindo a essa população alimentação, vestuário e instalações higiênicas entre outros direitos básicos. O presente resumo é parte de uma pesquisa intitulada “Educação, trabalho e alimentação: saberes, práticas e políticas em espaços não escolares” e do subprojeto Alimentação e saúde, do PRÓ-SAÚDE, que semanalmente, às terças-feiras, realiza atividades in loco no complexo prisional feminino de Rio Pardo. Atualmente, o complexo abriga 44 mulheres de diferentes municípios da região, sendo que 6 delas estão vinculadas ao programa de ressocialização, pelo trabalho de preparo das refeições do complexo prisional. Nessa pesquisa, busca-se compreender as práticas educativas de mulheres privadas de liberdade que realizam trabalhos relacionados à alimentação. Metodologicamente recorreu-se a técnicas de observação participante e registros em diário de campo. Em 8 encontros, foram partilhadas receitas e ideias de preparações culinárias, utilizando-se de alimentos disponíveis. Percebeu-se o interesse e a curiosidade delas durante os preparos frente à perspectiva de outras possibilidades de combinações de alimentos, formas de os preparar, variações de cardápios, além da degustação dos novos sabores. Nessas atividades, buscou-se mostrar que é possível novas preparações com os alimentos de maior quantidade no estoque, aproveitando-os e evitando desperdícios. Foi possível identificar que no espaço cozinha, um espaço privado, cercado por grades e vigília, diversos saberes da experiência à medida em que as relações de confiança se estabelecem. É no cotidiano que as mulheres organizam sua rotina de trabalho, no planejamento do que produzir para atender toda a população abrigada, nas estratégias para manter a pouca carne ao longo da semana, na utilização de poucos elementos de fritura, em decorrência do pouco óleo de soja disponibilizado, no controle da forte chama do fogão, no poder de inventividade ao produzir outras preparações sem o uso de farinha de trigo e na quantidade de sal sem o uso de instrumentos de medida. As práticas educativas revelaram uma íntima relação entre trabalho e alimentação, ressignificando os saberes da experiência cotidiana. Além disso, permitiu com que elas pensassem na alimentação como uma possibilidade de transformar vidas, ou seja, não somente como forma de remissão da pena, mas como campo de trabalho ao saírem de sua situação de privação.

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ISSN 2764-2135