A VOZ DAS MULHERES NO SILÊNCIO DO ISOLAMENTO: A PANDEMIA E SEUS IMPACTOS PSÍQUICOS

Camyla Luanne Corrêa Piel, Edna Linhares Garcia, Silvia Coutinho Areosa, Kayla Niandra da Silva, Blanka Pereira Finoketti, Letiane de Souza Machado

Resumo


Introdução: A pandemia da covid-19 acarretou não só mortes em decorrência do vírus Sars-Cov 2, como também mudanças de paradigmas sociais e intensificação de diversos sintomas psíquicos. Neste sentido, o projeto “Vale a Vida”, avaliou o impacto da pandemia e do isolamento social sobre a saúde mental da população da região dos Vales do Taquari e do Rio Pardo. Mesmo antes da pandemia, já vivíamos um contexto em que a jornada de trabalho das mulheres era exaustiva e com salários não correspondentes. Assim, à figura feminina são imputadas atividades de cuidado do lar, família e ainda trabalho, tendo uma rotina triplicada, e, portanto, sobrecarregada. A partir da experiência do projeto, verificou-se que essas circunstâncias se agravaram com a pandemia. Objetivo: Este resumo apresenta um recorte da pesquisa ‘’Vale a Vida”, e visa analisar os sentidos produzidos por mulheres frente ao isolamento domiciliar e a conciliação de suas tarefas cotidianas. Método: Investigação qualitativa, exploratória e descritiva. A produção de dados se deu por meio de quatro sessões de psicoterapia online, realizadas por três psicólogas, seguidas da elaboração de diários de campo e análise das evoluções de cada caso. A coleta de dados foi realizada entre março e dezembro de 2021, com uma amostra de 117 mulheres. Por meio dessa coleta, foram eleitos alguns marcadores, que foram analisados frente ao construto teórico de Mary Jane Spink, que representa os estudos de análise de discursos, sendo eles o meio de produção de realidades. Resultados e Discussão: Os dados produzidos possibilitaram a elaboração de alguns marcadores, como o medo constante dessas mulheres, que ultrapassam a angústia de contrair o vírus, sendo uma perspectiva destrutiva para suas conquistas, com sentimentos paranóicos e uma forte sensação de desamparo. Mesmo assim, tiveram que se manter minimamente firmes para exercer o cuidado de si, da casa, da família e do trabalho. Outro marcador trata da insônia, que traz para a discussão os prejuízos de um estado de alerta constante. O modo de cuidado exigido para com os filhos produziu um desequilíbrio emocional e físico frente a necessidade de acompanhá-los nas aulas de forma remota, constituindo um fator agravante para a saúde mental dessas mães: “Meu filho tem 09 anos e intenso desgaste em relação às aulas remotas. Ele chora, diz que não quer participar. Isso gera conflitos com toda a família, pois desestabiliza o ambiente familiar.” Tendo em vista que foram analisadas 117  mulheres de 18 a 67 anos, pode-se observar que a maioria apresentou queixas relacionadas a sobrecarga de trabalho, aliadas ao dar conta de outras questões da casa, da educação dos filhos, nesse período de isolamento. Sintomas como alteração de memória, insônia, desânimo, tristeza, ansiedade, irritabilidade, oscilações de humor, sobrecarga e desvalia são pontos que aparecem nos relatos de cada uma, nos possibilitando concluir que a pandemia teve um significativo papel no adoecimento psíquico dessa população. Conclusão: A partir da escuta dos relatos das mulheres, os sentidos apontam para vivências de muitas angústias, que foram, pouco a pouco, nomeadas e reconhecidas pelas psicólogas. Pode-se perceber, refletir e problematizar os papéis dessas mulheres durante a pandemia e em toda sua vida, reafirmando uma vulnerabilização há muito desvendada, do lugar das mesmas na sociedade.

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ISSN 2764-2135