DESQUALIFICAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE MENTAL: RASTROS DA COVID-19

Kayla Niandra da Silva, Camyla Piel, Blanka Pereira Finoketti, Letiane de Souza Machado, Edna Linhares Garcia, Silvia Coutinho Areosa

Resumo


A qualidade de vida se relaciona com uma visão holística e biopsicossocial do sujeito. Com a crescente demanda por produtividade, a diminuição de tempos de lazer e a ampliação de jornadas de trabalho, manter uma qualidade de vida adequada passou a ser um desafio. A necessidade do isolamento social como um modo de conter a covid-19 promoveu impactos econômicos e psicossociais, dificultando a manutenção de um bem-estar e agravando sofrimentos psíquicos. Diante disso, essa escrita se dá como um recorte do projeto “Vale a Vida”, o qual disponibilizou a telepsicoterapia como ferramenta de auxílio durante a pandemia não só para os participantes, como também para os serviços públicos. Busca-se compreender como a pandemia impactou a saúde mental e a saúde pública, implicando na qualidade de vida das pessoas. Para tanto, utilizou-se do levantamento de dados demográficos obtidos por meio de questionários aplicados no projeto via uma plataforma online, a partir da pergunta “Desde o início da quarentena algum desses aspectos da sua vida mudou?”, a qual os participantes poderiam responder de forma objetiva se “aumentou”; “diminuiu”; “ficou igual”; ou “não se aplica”. Os participantes também classificaram sua saúde mental, de acordo com sua percepção, antes e após a quarentena em “muito boa”; “boa”; “justa”; “fraca”; e “muito fraca”. Os dados coletados foram tabulados, e subsequentemente foi realizada a análise descritiva e de percentual dos resultados. No total, 156 participantes foram incluídos no estudo. Percebe-se a diminuição de hábitos saudáveis como a prática de atividade física (66%), a ida a locais como parques e jardins (74,3%), a realização de atividades que o participante gosta (55%) e a quantidade de sono (44,9%). Em contrapartida, nota-se o aumento do uso de telas (90,3%), a manutenção de hábitos relacionados à ingestão de álcool (30,7%) e o aumento do uso do cigarro por aqueles que já possuíam o hábito de fumar (10,2%), bem como a diminuição do convívio com pessoas de fora do núcleo familiar (37,8%). Compreendeu-se que a pandemia reduziu as possibilidades dos indivíduos exercerem a autonomia, o convívio e hábitos do seu dia-a-dia. Tal fato vai ao encontro da dificuldade de manutenção de uma de uma vida com qualidade e, por consequência, de um bem-estar. Questões como o impacto econômico e os sentimentos de medo e insegurança advindos do período pandêmico podem trazer consequências à saúde desta população. Vindo ao encontro destes resultados, a percepção dos participantes acerca de sua saúde mental antes da pandemia era em sua maioria “boa” ou “muito boa” (46%); já após a quarentena, 84,6% dos participantes perceberam sua saúde mental como “fraca” ou “muito fraca”. Dessa forma, entende-se que a saúde mental dos participantes foi intensamente prejudicada pela pandemia e por suas consequências, havendo alterações nos hábitos, rotina e convívio social. Diante disso, para além dos efeitos biológicos e estatísticos, é importante considerar as implicações da doença no cenário social e subjetivo da população. A pandemia aumentou não só a precarização dos serviços de saúde pública, como também deixou de herança uma maior demanda por saúde mental. Se dá como necessário a adoção de políticas de promoção e prevenção em saúde, visando mitigar as consequências da pandemia, bem como a adoção de ferramentas que deem conta dessas novas demandas, como a telepsicoterapia, servindo de suporte aos serviços públicos.

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ISSN 2764-2135