A VOZ DO BARRO: ENTRE ECOS DE VIOLÊNCIA E A CRIAÇÃO, UMA POSSÍVEL APRENDIZAGEM INTERCULTURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA COM PRÁTICAS KAINGANG E A EDUCAÇÃO BIOCÊNTRICA.

Theo de Lima Goes, Ana Luisa Teixeira de Menezes

Resumo


No grupo de pesquisa, Educação Ameríndia e Interculturalidade (PEABIRU), estamos desenvolvendo a proposta de pesquisa “Aprendizagens interculturais com os Guarani e Kaingang na educação básica”, que busca aproximar as mitologias dos povos Guarani e Kaingang com estudantes da Educação Básica. Com essa pesquisa, o grupo pretende desenvolver um diálogo intercultural entre as formas de educar das culturas ameríndias e o ensino básico. Para realizar essa aproximação, buscamos os princípios de aprendizagem da educação biocêntrica e das narrativas ancestrais Kaingang, utilizando o círculo de cultura como metodologia. A educação biocêntrica é uma vertente pedagógica que alia o processo de aprendizagem com as vivências dos estudantes. Através de vínculos afetivos com os professores e aulas que gerem significado, a educação biocêntrica, busca potencializar o aprendizado a partir da vivência, do diálogo e da reflexão, no qual o aprender está atrelado a uma prática vivencial, visceral e cognitiva (SOARES, 2015). Para uma educação vivencial, o estudante necessita ter aulas que abrangem a sua capacidade cognitiva, afetiva e que suas vivências sejam potencializadas em aula, através da música, da dança, do teatro, de jogos cooperativos. A criatividade é uma força que se origina no instinto do ser humano, podendo ser definido como a ação de abrir espaço no consciente para a manifestação do inconsciente, gerando um produto munido de vivências e significantes de seu criador (CARVALHO, 2012). Em um de nossos encontros de extensão, com uma Escola Municipal foi realizada uma proposta vivencial com 140 estudantes do 6° ao 8° ano do ensino fundamental. Os alunos assistiram o documentário “A voz do barro”, narrado pela mestra e kujâ (liderança espiritual) Dona Iracema Gãh. Seguidamente, estes foram convidados a realizar uma produção em argila que expressasse alguma emoção ou vivência, finalizando o encontro com um círculo de cultura, no qual os alunos expressaram seus sentimentos acerca da vivência, em volta de uma mandala constituída das obras produzidas pelo grupo. Este espaço de abertura, permitiu um ambiente descontraído a qual foi possível notar diversas manifestações dos estudantes. Dentre elas, destacamos a produção de duas armas, um carrinho de supermercado lotado de comida, vasos, imagens humanas, etc. Um grupo de alunos expressou, através de brincadeiras, possíveis experiências com o uso de drogas. Ao encontrar espaços de manifestações criativas, possibilitadas pela educação biocêntrica e pela mitologia Kaingang, as imagens emergem como ecos do inconsciente e das formas de vida, tanto expressando uma emergência da criação quanto feridas, dores, violências. Como podemos acolher e trabalhar com essas imagens nos espaços da sala de aula, na educação básica? Ao trabalhar com o processo criativo dos estudantes em sala de aula, quais manifestações emergem e como lidar com as imagens? Essa forma de abertura a manifestações, possibilita à escola conhecer melhor seus estudantes, identificar emoções, o universo psíquico de seus alunos e organizar maneiras educativas que propiciem uma elaboração criativa de possíveis violências, agressões físicas e psicológicas, colaborando na produção de sentidos e de recriação do modo de estar no mundo. CARVALHO, O. 2012. DOI: . SOARES, L. 2012, DOI: .

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


ISSN 2764-2135