FAMÍLIA E CAPS: COMO A EQUIPE VÊ ESSA RELAÇÃO?

TERESINHA EDUARDES KLAFKE, MARILIA BOHRER

Resumo


A reforma psiquiátrica iniciada no Brasil no final dos anos 70, trouxe à tona a necessidade da retirada do doente mental dos hospitais psiquiátricos que os excluíam e os segregavam. Para que a reinserção social seja bem sucedida é necessário que se desenvolva uma boa parceria entre o portador de transtorno mental, sua família e os profissionais dos serviços de saúde. Esta parceria precisa dar suporte para além da patologia do usuário e envolver todos os aspectos da vida, sejam físicos, sociais ou psicológicos. É preciso lembrar, porém, que embora avanços bastante significativos tenham ocorrido na saúde mental, o cuidado compartilhado entre equipe e família ainda encontra dificuldades, já que antes da reforma psiquiátrica, o cuidado era exclusivo dos manicômios. Esta pesquisa, realizada no Estágio Integrado em Psicologia, objetivou compreender a visão que os profissionais que trabalham no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) de Santa Cruz do Sul têm sobre os familiares de usuários do serviço, como se dá o diálogo entre estes, como acontece a corresponsabilização dos familiares e quais práticas envolvem sua participação. A pesquisa de ordem qualitativa teve como análise dos dados a metodologia de análise do conteúdo e foi realizada com seis trabalhadores representativos de cada profissão que está presente no CAPS II. Os resultados apontam que a equipe sabe da importância da família no tratamento, considera que para haver corresponsabilização é preciso chamar a família para dentro do serviço, abrindo espaço para que esta fale sobre suas dúvidas, medos, dificuldades em relação ao manejo do usuário e mostrando-lhe que através do cuidado compartilhado as chances de sucesso do tratamento são bem maiores. Para tanto, ponderam ser decisiva uma postura empática e receptiva da equipe, o que com frequência resulta em bons vínculos. Os profissionais consideram adequada a família que se mostra disponível para estar junto do usuário em todos os momentos e inadequada aquela que maximiza ou nega os sintomas da patologia, não entendendo a doença, assim como aquela que é invasiva, não respeitando a autonomia do usuário. Quanto à participação da família no serviço, aparecem como importantes espaços o grupo de familiares, assembleias e festas, todas com baixa adesão neste momento. Esta pouca adesão é um dos desafios citados pela equipe em relação ao cuidado compartilhado, assim como em relação ao projeto terapêutico singular que acontece em menor frequência do que o esperado. A postura de não colocar os familiares como apenas receptores dos saberes profissionais é considerada fundamental para a boa relação entre serviço, usuário e família.


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