O VOO DA RAZÃO PRODUZ TOMBOS: A IMAGINAÇÃO EM SARTRE, BACHELARD E MANOEL DE BARROS

ANGELA COGO FRONCKOWIAK, FELIPE AUGUSTO KOPP, SANDRA REGINA SIMONIS RICHTER

Resumo


Este trabalho visa divulgar os resultados da monografia apresentada por mim ao Curso de Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), no primeiro semestre de 2013. A ideia motriz do estudo surgiu dos meus quatro anos de atuação como bolsista de iniciação científica nos projetos Imaginação poética e linguagens na educação da infância e Dimensão poética das linguagens e educação da infância, ambos sob orientação da professora Dra. Sandra Richter, do Departamento de Educação da UNISC. A mesma foi coorientadora da produção monográfica, juntamente com a docente Ms. Ângela Fronckowiak, do Departamento de Letras da UNISC. A pesquisa, em seus dois movimentos de investigação, contrasta as concepções de imaginação, imagem e imaginário nas obras dos filósofos franceses Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Gaston Bachelard (1884-1962) para se deter na análise das obras do poeta brasileiro Manoel de Barros (1916-). No primeiro movimento, o objetivo foi estudar como as teorias desenvolvidas por Sartre e Bachelard sustentam as vertentes do pensamento contemporâneo que entende a imaginação como potência humana, que não se exclui à razão. Vertentes estas representadas por intelectuais do porte de Morin, Serres, Althusser e Castoriadis. Ao mesmo tempo, busquei demonstrar como aqueles dois pensadores contribuem para conceber a poesia enquanto linguagem capaz de criar novos mundos e de transformar a compreensão da realidade. O segundo movimento focalizou as obras do poeta Manoel de Barros, em especial nos volumes: Memórias inventadas: a infância (2003); Memórias inventadas: a segunda infância (2006); e Memórias inventadas: a terceira infância (2008), nos quais o autor desafia limites tradicionais dos estudos literários - por exemplo, as diferenças entre autor e eu lírico, poesia e prosa - para contar casos que teriam ocorrido na infância. Com essa análise, pretendi evidenciar como as concepções sartreana e bachelardiana da imaginação auxiliam na leitura das imagens poéticas, numerosas na produção barreana, e como essas concepções podem deslocar a poesia para um campo que não diz respeito apenas ao da crítica literária, mas ao da própria vida. A pesquisa teve duração de um ano e meio, entre a elaboração do projeto e a entrega da versão final e fundamentou-se, quase que exclusivamente, na minuciosa leitura e interpretação de seis livros de Sartre, nove livros de Bachelard, na obra completa de Manoel de Barros, além de outras dezenas de livros e artigos. O critério para a escolha do referencial foi a proximidade com o tema. No que diz respeito aos resultados, pude apontar que o entendimento acerca da imaginação para Bachelard é mais amplo do que em Sartre. Para o segundo, ela seria uma consciência que se desvincula da realidade, seria uma evasão do real; já para o primeiro, ela agiria antes da percepção da realidade e, em consequência, criaria o real. Pude demonstrar que Manoel de Barros exemplifica isso em sua poesia. Ao brincar, poeticamente, com a linguagem, ele evidencia que a memória não pertence ao âmbito dos fatos, mas ao das imagens inventadas. A monografia não se fechou em conclusões definitivas e, ao final, apontou caminhos possíveis para a continuidade do estudo nas áreas literárias, filosóficas e pedagógicas.


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