ICONOCLASTIA PEDAGÓGICA NOS LIMITES DA CÓPIA E DA NECESSIDADE DE REPETIÇÃO
Resumo
O Programa de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID-UNISC) tem como objetivo proporcionar, aos acadêmicos das licenciaturas, experiências dentro do contexto escolar. Assim, usufruímos de vivências que possibilitam nos tornarmos profissionais mais qualificados e inseridos na dinâmica escolar. Tomamos como exemplo a nossa proposta com as fichas poéticas, realizada com estudantes da 7ª série da Escola José A. Kliemann, em oficinas desenvolvidas durante as aulas de Língua Portuguesa. Proporcionamos aos discentes o contato com a leitura de poemas e contos, apresentados em formato de fichas. As fichas poéticas tratam de um texto escrito, geralmente poema ou conto, ampliado e colado, junto com uma imagem, em um suporte grande, como um cartaz. Esse material é, então, plastificado com fita ou papel adesivo para aumentar sua durabilidade. O objetivo da ficha é apresentar o texto escrito em um formato mais prazeroso para a leitura, tirando-o do suporte do livro, com o qual os alunos, às vezes, possuem alguns receios. Após o contato com os textos, propusemos a eles que realizassem, em papel pardo de grande extensão, uma espécie de mosaico com desenhos criados a partir das leituras. Essa foi a via de proximidade que encontramos para, de alguma maneira, fazer com que os estudantes expressassem sua compreensão e reação diante do que foi lido, pois percebemos a limitação que demonstravam em expressarem-se verbalmente e também na forma escrita. Para não abordarmos a produção textual logo nos primeiros contatos com o grupo, optamos pelo desenho. Observamos, no decorrer da atividade, que todos, com exceção de um educando, fizeram cópias das ilustrações das fichas e não criaram novas imagens, conforme havia sido direcionada a atividade. O estudante que não fez cópia preferiu não desenhar no papel, mas sim no quadro da sala. Tivemos também a experiência com outro estudante que desenhou no papel pardo o mesmo desenho que estava na ficha, mas depois de pronto decidiu apagar todo o desenho e deixar o papel em branco. Ao analisarmos nossa prática e as respostas obtidas, nos questionamos sobre o porquê de os estudantes agirem dessa forma. Dentre as possíveis interpretações, parece-nos pertinente refletirmos sobre a falta de repertório de imagens dos alunos de 7ª série, até por não termos construído conjuntamente com eles a apreciação de um leque de ilustrações para, dessa forma, prepará-los para o que seria proposto. Outra reflexão plausível é a necessidade da repetição que o humano sente quando é lançado na experiência de fazer e concretizar qualquer experiência com manifestações expressivas da linguagem. Com isso, não estamos nos referindo apenas à repetição da mensagem central que a obra literária possui, nem tampouco à repetição parcial da imagem ou do que foi lido, mas, da reprodução literal do conteúdo das imagens, nesse caso, que já ilustravam as fichas. Diante disso, concluímos quão complexo são os processos de produzir e/ou provocar a realização de imagens no contexto de sala de aula, uma vez que temos de respeitar as produções individuais, ainda que pouco exploradas pelos sujeitos, e, ao mesmo tempo, desacomodá-los naquilo que já dominam, incitá-los a gerar novos repertórios no que tange a criatividade individual e coletiva. Cabe repensar esses fenômenos em uma perspectiva abrangente, colocando a sensibilidade no centro desse processo e questionando a iconoclastia pedagógica.
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