DOR FANTASMA E ELABORAÇÃO DO LUTO: A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA NOS PROCESSOS DE REABILITAÇÃO FÍSICA.

DANIELA TOMAZI DOSSENA, MARCUS VINICIUS CASTRO WITCZAK

Resumo


O presente trabalho tem o objetivo de refletir sobre a inserção de bolsistas de extensão comunitária (PROBEX) do Curso de Psicologia no Serviço de Reabilitação Física (SRFis) da UNISC. Os principais diagnósticos referem-se a acidentados (amputados, para ou tetraplégicos), doenças vasculares ou diabete mellitus (amputações) e crianças e adolescentes com quadros de disfunções neuronais. O foco deste trabalho está em pacientes amputados e a sua relação com o luto e as dores fantasmas. Carvalho (2003) define amputação como sendo a retirada, geralmente cirúrgica, total ou parcial do membro, estando relacionada ao terror, derrota e mutilação, trazendo de forma implícita uma analogia com a incapacidade ou a dependência. A metodologia de pesquisa está fundamentada no construcionismo social em que a noção de indivíduo é entendida como uma construção social, pretendendo escapar a uma perspectiva individualista (SPINK e FREZZA, 1999). Foi realizada também uma pesquisa bibliográfica sobre as consequências psicológicas e sociais que as amputações produzem em pessoas que passaram por este processo. Algumas questões nortearam esta busca: como um corpo amputado se coloca na relação com o mundo? como lidam com esta perda? como se constituem os diferentes processos de luto? Luto é conceituado por Sanders (1999) como o estado experiencial que a pessoa sofre após tomar consciência da perda, sendo um termo global para descrever o vasto leque de emoções, experiências, mudanças e condições que ocorrem como resultado. Este processo é dividido por fases: entorpecimento, raiva e desespero, depressão e recuperação (ROSS, 2004). Em decorrência da elaboração do luto, muitas das perspectivas para a sua vida futura acabam por serem totalmente modificadas. Acabam tendo que reconstruir suas vidas de acordo com as suas limitações e, em realidade, na maioria dos casos os pacientes se veem sem perspectiva alguma. Tendem a se sentirem com medo, inseguros, incapazes de não mais poder realizar suas atividades diárias e receiam sofrer preconceitos variados de outras pessoas. Este preconceito está enraizado em representações sociais (GUARESCHI, 2007) que definem modos de ver, pensar e agir sobre a vida cotidiana, e que produz imagens e sentidos que vão para além do corpo biológico em si. Um exemplo é o da dor fantasma - sensação de dor na parte perdida do membro amputado. A etiologia desta dor pode ser associada com aspectos psicológicos que se referem à imagem construída pelo indivíduo através de suas experiências e que, com a amputação, surgem as dificuldades de adaptar-se e aceitar uma nova imagem corporal, relutando em manter o corpo íntegro. (DEMIDOFF e cols., 2007) E o aspecto fisiológico que está associado à reorganização cortical central após a perda do membro, visto que o córtex cerebral possui a representação de cada região do corpo e após a amputação a área referente ao membro perdido permanece representada no córtex, dificultando o fim da sensação corporal (HANLEY e cols, 2004). O estado emocional em que se encontram, na maioria dos casos, acaba por despertar sentimentos de perda e luto que, segundo (CAVALCANTI, 1994) passam a comparar muitas vezes a perda do membro com a perda de um ente querido. Por isso, o trabalho realizado pelos acadêmicos e profissionais da Psicologia, em atuação multiprofissional e interdisciplinar, é de extrema importância junto a esses pacientes.


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