A FORMAÇÃO EM SERVIÇO: A EXPERIÊNCIA DOS ALUNOS DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UNISC NO SERVIÇO DE REABILITAÇÃO FÍSICA (RFIS).
Resumo
A formação profissional, em uma perspectiva acadêmica, reúne atividades de cunho técnico-científico, organizadas em currículos que abarcam as áreas do conhecimento específico e capacitam o futuro profissional ao exercício de determinada profissão. No ensino da Psicologia, enquanto ciência e profissão, repete-se essa mesma lógica de formação. Estágios curriculares e experiências extracurriculares - bolsas de pesquisa e extensão - aproximam o aluno de vivências específicas. Uma das possibilidades oferecidas aos alunos de graduação em Psicologia na UNISC acontece junto ao Projeto de Reabilitação Física (RFis). O RFis acontece na Clínica FisioUNISC e atende usuários do SUS de três Coordenadorias Regionais de Saúde e abrange 64 municípios do Rio Grande do Sul. São atendidos pacientes com alterações ortopédicas, traumatológicas, neurológicas, reumatológicas e cardiorrespiratórias. O trabalho cotidiano acontece de forma multiprofissional e interdisciplinar (Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Psicologia e Serviço Social), com acolhimentos iniciais, atendimentos individuais e coletivos em práticas compartilhadas. A discussão de casos e das facilidades/dificuldades/aprendizados fazem parte da construção deste processo de saber, assim como a exposição de sentimentos e ansiedades gerados pelos próprios atendimentos.A metodologia de pesquisa consistiu no acompanhamento de rotinas de trabalho neste serviço e em visitas domiciliares, bem como as repercussões destas sobre os acadêmicos. Também as discussões nas equipes multiprofissionais sobre os sentidos do trabalho e a repercussão no cotidiano dessas práticas foram consideradas. Analisou-se tais dados buscando compreender, neste processo de aprendizado, o que os alunos usam de si ou das suas potencialidades de acordo com o que lhes é exigido em termos de ressignificação de vivências, reconhecimento de suas próprias ansiedades e enquanto gestor do seu trabalho e produtor de saberes (CLOT, 2001). Os processos de sofrimento vivenciados nos atendimentos diversos são sublimados no próprio ato de aprender em Serviço. No entanto, mesmo com as devidas supervisões acadêmicas e discussão dessa repercussão em suas trajetórias profissionais, estes alunos experimentam ansiedades que o futuro profissional irá vivenciar. O estresse relacional, o desânimo, o aparecimento de doenças físicas e mentais em quem cuida são indicadores de que a relação cuidador-paciente é geradora de sofrimento e desgastes. Tais práticas de cuidado deparam os acadêmicos com situações difíceis que os fazem pensar sobre si e sobre os outros sob o prisma do sofrimento físico. Os enfrentamentos provocam sentimentos controversos de aversão e compaixão, de repulsa e dedicação, de repulsa e superação, em busca de diminuir a dor no outro, independentemente do próprio sofrer. Dessa forma, o profissional, afetado negativamente por tais práticas, ao negar o sofrimento do outro, nega o seu próprio, restando apenas a obrigatoriedade de um trabalho identificado com sofrimento. À possibilidade subliminar pode-se associar processos reflexivos que possibilitam ao acadêmico questionar-se sobre o seu cotidiano de trabalho e sobre como isto o afeta. Essas experiências estão, ao mesmo tempo, repletas de boas e prazerosas significações e passam a constituir um ser humano diferenciado, transformado em cuidador consciente de suas limitações e de suas possibilidades.
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