MEDO DA SEPARAÇÃO: A HISTÓRIA DE MARIA

DULCE GRASEL ZACHARIAS, JOSIELE RAQUEL BARCELOS ROSA

Resumo


Apresento um estudo de caso de uma paciente em acompanhamento psicoterápico individual no Serviço Integrado de Saúde- SIS, da Universidade de Santa Cruz do Sul- UNISC. Orientada pela Psicologia Sistêmica, que me proporciona entender o sujeito em seu sistema familiar, onde o comportamento de cada membro da família afeta e é afetado pelo comportamento de cada um dos outros membros. A paciente é uma criança de nove anos. Nesta situação a escuta com os pais é fundamental. Maria (nome fictício) foi encaminhada para acompanhamento psicológico por estar num jogo de disputa entre os pais que são separados e ainda não elaboraram a separação. Maria apresenta problemas de relacionamento com o pai, e tem medos exagerados. Durante as sessões ela relata que sente muito medo de ficar com o seu pai e sua madrasta, diz não gostar deles. Maria e seu pai residem em cidades diferentes, dificultando assim o contato, por determinação judicial, Maria fica com o pai uma vez por mês aos finais de semana, porém neste período ela vivência um processo de angústia, sente medo, chora muito e apresenta notas não muito boas na escola, tendo que frequentar aulas de reforço, repete que não sente amor por seu pai e que tem medo de que algo aconteça a sua mãe. 240Durante as sessões realizadas com Maria, é nítido o quanto ela se contradiz, ao mesmo tempo relata não gostar do pai e ter medo, e em outros diz se divertir com ele. Nas sessões realiza desenhos na tentativa de convencer que sua família ideal não engloga seu pai. Maria desenvolve sintomas como crises de angústia e dores na cabeça na tentativa de mostrar que não consegui se aproximar de seu pai porque ele é culpado disto, pois afinal considera que foi abandonada por ele, relata que ele optou por outra pessoa à ficar com ela. Durante a terapia se percebe que Maria e sua mãe tem uma relação bastante simbiótica, a mãe proteje filha do contato com o pai, vincula-se com a ela intensamente, não percebendo que transparece a filha seu medo de ser abandonada novamente. Com isto Maria não desenvolveu um apego seguro com sua mãe, gerando assim diversas crises de angústia e medos em relação a ela. Através das sessões com Maria e seus pais, levanto a hipótese que a queixa inicial trazida pela mãe, de que Maria tem medo do pai, na verdade esta amplamente relacionada com a separação240 deles. Fica claro que seus medos e angústias têm a ver com a ansiedade gerada devido à má elaboração do processo de separação por parte da mãe. Devido a relação simbiótica entre elas, filha acaba ditando as regras em casa, chantageando sua mãe com crises de choro, e a mãe utiliza-se destes momentos para manter seu vínculo com a filha, desta forma dificulta a aproximação da filha com seu pai, sem sentir-se culpada por isso. A evolução de Maria nos atendimentos dependerá da participação ativa da mãe também em terapia individual, afinal mãe não elaborou a separação e projeta na filha seu sofrimento, fazendo com que a filha desenvolvesse um quadro de ansiedade de separação. A verdade é que Maria não tem medo do pai, e sim medo de separar da sua mãe, sendo que minha função enquanto terapeuta é acolher e ouvir, pois é asim que a criança se sentirá segura para expressar seu universo privado e aprender maneiras adaptativas de expressar seus sentimentos como medo, tristezas, ansiedades e amor.


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