O relatório da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization, 2001) apresentou dados consideráveis sobre a população infantil, apontando que cerca de 17 milhões de crianças na América Latina, com idades de cinco a sete anos, apresentam distúrbios mentais que requerem atendimento. Dentre esses distúrbios destaca-se o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), que se caracteriza por "dificuldades para processar e mediar adequadamente a enorme quantidade de estímulos e impulsos que atravessam o campo da percepção e da atenção dos indivíduos e dos grupos (Eidt e Tuleski, 2010, p. 128)". Segundo Muszkat, Miranda e Rizzutti (2012), o paciente possui dificuldade na modulação da atenção, no controle dos impulsos e na capacidade de controle do próprio nível de atividade motora. Seu impacto é percebido em todas as esferas do neurodesenvolvimento e nas interações psicossociais da criança, incluindo a rede familiar, escolar e de amigos, influenciando também na formação da identidade, nutrindo um sentimento de incompetência e baixa autoestima. O comportamento das crianças é determinado por valores, crenças e atitudes dos que os circundam nesta época da vida, comportamentos esses que não são inatos: são adquiridos através de interações diretas e indiretas. Nessa perspectiva, o ambiente familiar exerce influência considerável no contexto cultural e social da criança, por ser o meio mais permanente de todos, e o primeiro grupo interacional com quem as crianças têm relação. Segundo estimativas apresentadas por Silva, Serralha e Laranjo (2013), uma em quatro famílias tem ao menos um membro que sofre atualmente de uma perturbação mental ou comportamental. O desenvolvimento do capitalismo vem gerando uma sociedade impaciente e imediatista, que implica uma reestruturação de ações, comportamentos, afetos e sentimentos, e, tendo em vista que os indivíduos são formatados por características humanas comuns a cada época histórica, entende-se que os transtornos mentais e de comportamento, entre eles o TDAH, precisam ser analisados em suas múltiplas determinações, uma vez que expressam as contradições da sociedade atual (Eidt e Tuleski, 2010). A partir disso surgiu a necessidade de verificar a situação no Vale do Rio Pardo, tendo em vista que se percebia um aumento no número de diagnósticos e de crianças em uso de medicação, bem como uma maior apropriação pelo senso comum do termo, o que contribui para este aumento. O objetivo desta pesquisa é realizar uma reflexão sobre casos de crianças diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), atendidas em um serviço-escola do Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul. Para tanto, realizou-se um levantamento sobre os pacientes atendidos com esta demanda nos anos de 2000, 2005 e 2010, com o objetivo de analisar ao longo do tempo o perfil desses pacientes, bem como obter um panorama da evolução deste tipo de diagnóstico. Elaboramos um protocolo de pesquisa e os dados foram tabulados. Como resultado se obteve dados quantitativos e qualitativos que deram impulso a reflexões críticas a respeito do tema, uma vez que 54% das crianças têm chegado já diagnosticadas, e isso vem se dando cada vez mais cedo, mesmo na fase pré-escolar. Discutiremos ainda a alarmante taxa de crianças que estão sendo medicadas.