ESCOLAS INCLUSIVAS, SURDOS E TERRITORIALIDADES

CAMILA MELO MENEZES, CAMILO DARSIE DE SOUZA

Resumo


Muitas discussões e análises, especialmente no campo da Geografia, se dão sob a influência da noção de territorialidade. Esta perspectiva surgiu a partir de um pensamento que considera que não é possível estabelecer territórios homogêneos no que diz respeito às identidades culturais dos sujeitos que neles estão. Assim, em diferentes momentos, sujeitos que podem ser completamente desconhecidos ou com interesses contraditórios acabam por se agrupar em determinadas áreas, movidos pelas identidades em comum que os constituem. Tais sujeitos se reúnem e se apropriam de áreas em função de características ou necessidades comuns, possibilitando, deste modo, a emergência das territorialidades. Estas se formam a partir de conjuntos de pessoas que se apropriam do espaço e produzem diferentes posições de sujeitos frente aos outros. As escolas que atendem alunos surdos podem se configurar como um exemplo destas áreas, já que constituem parcelas do espaço geográfico onde os surdos se agregam visando formas de ensino diferenciadas, principalmente por meio do uso da Língua Brasileira de Sinais e de relações sociais em que a identidade surda pode ser construída e/ou fortalecida. Quando falamos em identidade, é relevante ressaltar que esta não é inata. Em outras palavras, ela está em constante modificação a partir da descoberta do outro e da afirmação cultural promovidas por sujeitos diferentes com interesses semelhantes, criando situações ambíguas que podem passar tanto pelo confronto quanto pelo conforto (de estar junto àqueles que, devido à surdez, são considerados "mais iguais"). É possível argumentar que as identidades surdas se formam e se transformam a partir da chamada Cultura Surda, fortalecida e (re)constituída pelos movimentos e lutas sociais a ela relacionados. Essa cultura serve como meio de garantir ao surdo sua existência enquanto sujeito a partir de sua diferença. Com base nesse entendimento, acreditamos que uma das maneiras possíveis de se analisar tal questão seja através dos Estudos Culturais, que, como argumentam alguns autores, se aproveitam de quaisquer campos que sejam necessários para produzir o conhecimento relevante a um projeto particular, com o compromisso de tensionar as relações de poder. Nesse sentido, ao possibilitarem a articulação entre diferentes campos, tais Estudos permitem falar em redes de relações, que são estabelecidas entre os diferentes elementos sociais. Considerando tais aportes, torna-se possível um debate, conforme proposto aqui, que considere as escolas inclusivas como ambientes onde se constituem as territorialidades surdas através da articulação de questões provenientes de áreas como a Geografia, a Educação e a Surdez. Diante deste contexto, discutir tais situações torna-se bastante relevante, para todas as áreas envolvidas no processo, especialmente no que se refere ao processo de formação de futuros professores. Este é, especificamente, o objetivo deste trabalho.


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