COMUNICANDO ATRAVÉS DO CORPO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ANOREXIA NERVOSA
Resumo
A sociedade é historicamente atravessada por diferentes modelos ditos ideais, sendo que de modo geral, somos impelidos a escolher um destes para que possamos nos sentir confortáveis e pertencentes a um determinado lugar ou grupo. Um desses modelos refere-se ao ideal de beleza e de feminilidade, demarcando um lugar desejado e de difícil acesso, onde as mudanças alimentares podem surgir como meio, cujo fim seja alcançar o padrão, aceitação social e felicidade. Quando essas modificações nos hábitos alimentares e na forma de perceber o alimento tornam-se exageradas, trazendo prejuízos para a saúde física, psíquica e social do sujeito, podem ser consideradas patológicas e caracterizar o início de um Transtorno Alimentar. De acordo com o DSM-5 (2014), a anorexia nervosa é uma das manifestações do Transtorno Alimentar e caracteriza-se pela extrema restrição da ingestão calórica: por um medo mórbido de engordar; por comportamentos que não possibilitam o aumento de peso; pela distorção da imagem corporal; autodesvalorização; não percepção do baixo peso e da gravidade do quadro clínico. Essa psicopatologia se divide em tipo restritivo, que caracteriza a perda de peso por meio de dieta, jejum e/ou exercícios físicos em excesso e tipo compulsão alimentar purgativa, que envolve vômitos autoinduzidos, uso de laxantes, diuréticos e/ou enemas (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). O presente trabalho trata-se de um estudo de caso de uma paciente com anorexia nervosa do tipo restritivo e foi desenvolvido durante o Estágio Integrado em Psicologia I, realizado no Serviço Integrado de Saúde (SIS) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), em que se buscou fazer interlocuções entre a teoria e a prática clínica. Em relação ao estudo de caso, este pode ser compreendido como uma “modalidade de pesquisa [...], como uma metodologia [...]. Visa à investigação de um caso específico, bem delimitado, contextualizado em tempo e lugar [...]” (VENTURA, 2007, p. 384). Evidenciou-se, ao longo do estudo, que não há uma causa única para o desenvolvimento desse transtorno, porém, a família, a comunicação entre os membros e as relações ali estabelecidas aparecem como fatores importantes para a compreensão deste. Alguns autores enfatizam que a família não pode ser considerada responsável pelo desenvolvimento da anorexia nervosa em um dos seus membros, porém, apontam que ela pode facilitar a manutenção dos sintomas (HSU, 1990; BRYAN-WAUGH; LASK, 1995, citados por FRÁGUAS, 2009). De acordo com Dare (1985, apud FRÁGUAS, 2009), a anorexia pode ser compreendida como uma proteção frente às dificuldades da família em realizar as mudanças necessárias para a sua evolução e crescimento. Para Roberto (1994), os sintomas atuam como uma metáfora, desejando comunicar sofrimento do sujeito em relação a algo pessoal da sua existência. O Transtorno Alimentar e, em especial, a anorexia nervosa, é uma manifestação patológica que merece atenção multidisciplinar, demarcando a noção de um sujeito biopsicossocial. É importante ressaltar que a prática clínica não vai se debruçar sobre o “porquê” e sim sobre o “como” surgiu essa psicopatologia, de modo que o setting terapêutico torna-se um espaço seguro para essa construção, onde a paciente poderá se escutar, repensar, perceber, modificar e criar novas possibilidades para encontrar o que almeja.
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