IMPLICAÇÕES DO TRAUMATISMO CRÂNIOENCEFÁLICO NA DINÂMICA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO

Dulce Grasel Zacharias, Ana Claudia Kasburger

Resumo


 

Como já sabemos, a família consiste em um sistema integrado, que influencia e é influenciado mutuamente por todos seus membros. Partindo deste pressuposto, este trabalho visa esclarecer sobre os impactos que um acidente com lesão grave em uma criança tem na vida de toda uma família. Durante minha prática do estágio de Psicoterapia, deparei-me com um sujeito que falava alto, tinha certas dificuldades para andar e controlar alguns movimentos. Ele me incomodava com seu jeito descontrolado. Com o passar do tempo fui percebendo que suas condições alteradas faziam parte de um evento passado que se torna cada dia mais presente: o dia de sol de dezessete anos atrás em que foi atropelado ao cruzar uma rua preferencial e que deixou sua vida a partir de então, menos colorida. F. já realizou atendimento psicoterápico no SIS durante o período de 2004 a 2009. Voltou ao serviço em março de 2011, para atendimentos individuais, semanalmente. Ao buscar atendimento psicológico para o filho, a mãe relata que F. acabou de romper um relacionamento de aproximadamente três anos com J., uma mulher cerca de vinte anos mais velha e que ao tentar uma reaproximação, foi violentamente agredido pelos filhos dela. Conta que ficou com muita raiva de J. e de seus filhos, principalmente pela covardia que fizeram com seu filho “deficiente”. F. é um rapaz de 25 anos que mora com os pais e não trabalha. Na tentativa de compreender o impacto que o estereotipo de deficiente tem na vida do sujeito e de sua família, deu-se início a investigação sobre a origem deste evento desencadeante. Em meados de 1994, aos sete anos de idade, ao atravessar uma rua enquanto andava de bicicleta com um amigo, os meninos foram atropelados. Com diagnóstico de Traumatismo Cranioencefálico, F. permaneceu internado no hospital por cerca de três meses. No momento de sua alta hospitalar, já respirava sem ajuda de aparelhos em estado de coma vigil. Logo deu início às sessões de Fisioterapia. Aos poucos foi recuperando os movimentos e cerca de 3 anos após o acidente, voltou a andar com o auxílio de outras pessoas. Os médicos alegaram que ele havia voltado a ser um bebê e que necessitava dos cuidados mais básicos. Com 10 anos, voltou a estudar. Em 2011, concluiu o Ensino Fundamental. F. apresenta comprometimentos relacionados à fala, para os quais faz tratamento com Fonoaudióloga há aproximadamente sete anos. Dos comprometimentos motores, apresenta dificuldades de mexer o lado direito do corpo, principalmente a mão e o braço. Tem dificuldade de andar, puxando a perna. Em decorrência destes fatores, F. que antes era destro, aprendeu a ser canhoto, pois não apresenta motricidade fina. Suas principais dificuldades cognitivas estão na organização do pensamento, na orientação e na linguagem. F. faz uso de sua condição de “deficiente” pelas vantagens que isto lhe traz e sabe que para algumas coisas é como um bebesão, demonstrando gostar de ser tratado como tal, pois recebe tudo nas mãos. No decorrer dos atendimentos, fomos trabalhando sua necessidade de ser aceito apesar de sua condição, mostrando-lhe que não é necessário ser tratado como criança para alcançar seus objetivos. Foram trabalhadas questões referentes à possibilidade de exercer alguma atividade remunerada visando estabelecer limites para a relação emaranhada que tem com os pais e consequentemente tornar-se menos dependente.

 

 


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