ESTUDOS ANTRACOLÓGICOS EM SÍTIO DE OCUPAÇÃO JÊ NO VALE DO TAQUARI, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

LEONARDO FLUCK MARIANI, ANDRÉ ASPER

Resumo


O estudo do carvão vegetal é um procedimento fundamental para estabelecer a ocorrência e inferir a intensidade e frequência de incêndios vegetacionais em diferentes ambientes ao longo do tempo. Além disso, é possível avaliar o tipo de combustível que permitiu a manifestação destes eventos nos mais variados ecossistemas. Nesse contexto, a Antracologia aparece como sendo o campo das ciências que estuda e interpreta os restos de madeira carbonizados provenientes de sítios arqueológicos ou de solos. Estes elementos estão relacionados com o testemunho de (paleo)incêndios de origem antrópica, procurando inferir qual a relação entre o uso do fogo e o ambiente, além de avaliar de que forma a vegetação era utilizada pelas comunidades pretéritas. As análises antracológicas também permitem estudos sobre a composição florística, o clima e as diversas atividades realizadas pelo homem em épocas passadas. Este estudo teve como objetivo avaliar a ocorrência de Carvão Vegetal Macroscópico (CVM) associado a uma ocupação pré-colonial de origem Jê no Sítio Arqueológico RS-T-123. Este sítio está localizado no Município de Arvorezinha, na porção Norte da Bacia Hidrográfica dos Rios Taquari-Antas, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Para a coleta, foram utilizadas técnicas de Arqueologia, mais precisamente escalonamento e decapagem. Estes processos consistem na escavação por decapagem em camadas do terreno do sítio, seguidas de resgate manual do sedimento. O material foi coletado junto às manchas de solo antropogênico e o sedimento contendo os CVM foi devidamente recolhido, separado em sacos plásticos e encaminhado para o setor de Botânica e Paleobotânica do Museu de Ciências Naturais da UNIVATES. Em laboratório, o sedimento passou por triagem manual, onde os fragmentos maiores que 2,0 mm com características macroscópicas para carvão vegetal (coloração negra, brilho sedoso e manchar ao toque) foram observados em estereomicroscópio. Posteriormente, o material foi montado sobre stubs para análise em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). Foi possível resgatar CVM em bom estado de preservação, sendo que em análise sob MEV observou-se que os fragmentos apresentam suas estruturas celulares bem conservadas, com paredes celulares homogeneizadas. Pode-se inferir, com base nas imagens obtidas, que os fragmentos de CVM coletados no Sítio Arqueológico RS-T-123 são de origem angiospérmica. Considerando a utilização da madeira pelos povos pré-coloniais da área de estudo, é possível estabelecer que o grupo que ocupou a área do Sítio Arqueológico RS-T-123 fazia uso da vegetação circundante para fins de queima.


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