12 ANOS DE ESCRAVIDÃO E A PAIXÃO PELO REAL

LUIS GUSTAVO FINGER DE OLIVEIRA, ANA GABRIELA ALVES, GABRIEL STEINDORFF, FABIANA QUATRIN PICCININ

Resumo


O presente resumo vincula-se ao grupo de pesquisa Narrativas Audiovisuais e Autenticação do Real, coordenado pela Prof.ª Dra. Fabiana Quatrin Piccinin, que tem como objetivo estudar as narrativas audiovisuais e as estratégias adotadas na busca pela autenticação contínua do real narrado. Ou seja, trata-se de compreender como a 223paixão pelo real224 emerge nestas narrativas, tomando-a como resposta à contemporaneidade marcada pela porosidade, pela fluidez e liquidez que denunciam a falta de um referente. Neste sentido, as narrativas audiovisuais realistas, de modo geral, marcam-se por aquilo que Jaguaribe define como o 223choque do real224, que visa a suscitar um efeito de espanto catártico no leitor ou espectador, acentuando a explicitude da narrativa e a redução das mediações como movimentos autenticadores desse real, desestabilizando a neutralidade do espectador/leitor. Assim, valorizam a autoria como portadora de experiência e validam narrativas biográficas relacionadas a vidas reais orientadas pelo objetivo de produzir o 223pancadão do real224, que estão em circulação nas montagens da realidade social, com o intuito de tornar as experiências cotidianas mais significativas. O interesse pelas chamadas histórias "verdadeiras224 enquadra-se, conforme Figueiredo, na tendência da busca do "real como matéria bruta", seguida da rejeição pelo ficcional, que nos possibilita falar em um movimento de retorno a uma estética realista. Para observar a paixão pelo real nas narrativas audiovisuais contemporâneas, a pesquisa tem investigado o fenômeno no cinema, a partir do estudo do filme 22312 Anos de Escravidão224, do diretor Steve Mcqueen. 22312 anos de escravidão224 foi um dos 9 filmes selecionados para o Oscar de 2014 na categoria de melhor filme, resultantes de narrativas baseadas em histórias reais, protagonizadas por pessoas comuns. O filme foi posteriormente premiado nesta categoria. E, além da premiação, foi escolhido para análise por conta da linguagem marcada pelo acento na crueldade e violência da narrativa explícita e dos recursos estéticos adotados para mostrar a contundência desta violência, representando um interessante objeto empírico para as intenções da pesquisa. A análise exploratória de 22312 Anos de Escravidão224 inicial já apontou para alguns indicativos que permitiram definir como metodologia de análise um elenco de três categorias construídas a partir da recorrência e/ou de padrões de repetição no filme. Tratam-se de: 1) a presença de micronarrativas que, segundo Figueiredo, é o foco na história de um personagem que conta sua trajetória e que dialogia com a tendência do realismo ao olhar para a biografia; 2) o uso das técnicas e recursos de linguagem cinematográfica para construção da narrativa verossímil; e 3) o estudo do tempo diegético e o tempo do filme marcando a explicitude dos acontecimentos. Neste momento, a pesquisa busca a investigação aprofundada destas marcas para identificá-las em sequências específicas do filme, a fim de que possa oferecer os subsídios para a compreensão de como se constitui este real e suas estratégias autenticadoras.


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